sexta-feira, 25 de julho de 2025

Bajoulo

            – Eh, môce! Aquilo são tudo fezes sem mezinha! Não há meio de o pessoal se entender! Foi assim a modos de um bajoulo que prantaram na estreiteza da vereda e não se pode mesmo passar! – queixava-se-me o Jòquinzito, embrulhado que está na teia da herança.
 – Mais valia uma pessoa não ter nada! – desabafava. –  É porque tem uma parcela 4 pés de figueira e a outra só tem 2;  ou porque, naquela, o valado tá fêto e nas outras não… Uma afeleação  pegada. E lá fomos pra tribunal.
– É o pão-de-cada-dia, amigo, o pão-de-cada-dia – retorqui-lhe eu, em vã tentativa de consolo.
 Ficou-me, porém, essa do bajoulo. De onde é que a palavra virá?
 No Dicionário do Falar Algarvio até se indicam sinónimos: bogueixo, bajalôco, jabôlo. Desses nenhum eu ainda ouvira falar nem constam dos dicionários; mas bajoulo já. E cá para mim – pasme-se! – eu acho que vem mesmo do nome latim «bajulus», que significa ‘carregador’, ‘galego’. ‘Bajulus,’ que está ligado (imagine-se!...) ao verbo ‘bajulare’, levar às costas!... Quem diria!?...
 Por uma daquelas estranhas veredas por onde a língua nos leva – a metonímia, por exemplo – aqui não foi o continente que serviu para designar o conteúdo, mas o agente carregador que serviu para dar nome ao que bem gostaria de carregar, se para tal força houvera. Não houve – e o bajoulo ficou no chão.

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 344, 20-07-2025, p. 13.

O bajoulo

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