– Eh, môce!
Aquilo são tudo fezes sem mezinha! Não há meio de o pessoal se entender! Foi
assim a modos de um bajoulo que prantaram na estreiteza da vereda e não se pode
mesmo passar! – queixava-se-me o Jòquinzito, embrulhado que está na teia da
herança.
– Mais valia uma pessoa não ter nada! –
desabafava. – É porque tem uma parcela 4
pés de figueira e a outra só tem 2; ou
porque, naquela, o valado tá fêto e nas outras não… Uma afeleação pegada. E lá fomos pra tribunal.
– É o pão-de-cada-dia,
amigo, o pão-de-cada-dia – retorqui-lhe eu, em vã tentativa de consolo.
Ficou-me, porém, essa do bajoulo. De onde é
que a palavra virá?
No Dicionário do Falar Algarvio até se
indicam sinónimos: bogueixo, bajalôco, jabôlo. Desses nenhum eu ainda ouvira
falar nem constam dos dicionários; mas bajoulo já. E cá para mim – pasme-se! –
eu acho que vem mesmo do nome latim «bajulus», que significa ‘carregador’,
‘galego’. ‘Bajulus,’ que está ligado (imagine-se!...) ao verbo ‘bajulare’,
levar às costas!... Quem diria!?...
Por uma daquelas estranhas veredas por onde a
língua nos leva – a metonímia, por exemplo – aqui não foi o continente que
serviu para designar o conteúdo, mas o agente carregador que serviu para dar
nome ao que bem gostaria de carregar, se para tal força houvera. Não houve – e o
bajoulo ficou no chão.
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 344, 20-07-2025, p. 13.
O bajoulo |
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