quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Palavras na pedra

             No ritual católico da encomendação da alma, recorda-se uma passagem do livro do profeta Job, o personagem bíblico símbolo do sofrimento maior e simultaneamente da resignação eficaz:
“Quem dera as minhas palavras fossem registadas! Escritas em um livro, talhadas com estilete de ferro no chumbo ou gravadas para sempre na pedra! (Job, 19: 23-25).
Do saudoso Padre José da Cunha Duarte nem todas as palavras se gravarão; o nome, sim: em placa que, para sempre, perpetue quanto – não sendo são-brasense de nascimento, mas sim, brilhantemente e com grande honra, são-brasense por adopção – por S. Brás diligentemente teve ocasião de fazer.
Das tradições que empenhadamente quis manter vivas e eficazmente impulsionou, a arte da pedra não foi, decerto, a que menos atenção lhe mereceu.
Imorredoira por natureza, merece ser repetidamente lembrada – ou dela não houvesse testemunhos, até em mui singelas ombreiras de porta.
 

Estão atentos os responsáveis pelo Centro de Artes e Ofícios. E não deixaremos de recordar a actividade, por exemplo, de Jorge Mendonça, que aí apresentou, em Março de 2013, a exposição «Arte em Pedra»; e, entre outras, dez anos depois (Maio de 2023), a exposição «Árvore de Pedra», na Associação da Casa-Museu José Pinto Contreiras, nos Gorjões.
Pedras e árvores integram o nosso património secular. Agrada-nos ver essas bem trabalhadas cantarias de portas. Bem nos agradava ver, igualmente bem tratadas, as árvores do nosso sentir: as velhas alfarrobeiras, as figueiras doces, as amendoeiras carregadas!...  – e quantas delas não há por aí ao abandono?!...
No quadro panorâmico da nossa São Brás, queremos vê-las cada vez mais bem amanhadas. Os herdeiros não se entendem? Há estratagemas a estudar – que essas nossas árvores, de pedra não são, mas carecem também elas da nossa arte e labor!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 346, 20-09-2025, p. 13.

1 comentário:

  1. De: Dora Barradas
    Enviada: 25 de setembro de 2025 14:19
    Como sempre, gostei do que li; e mais lhe informo que ainda antes desses datas enunciadas, na década de 90, organizei exposição dos trabalhos de “Arte em pedra” de José Mendonça na nossa Galeria municipal …
    Precisamente, com indicação de contacto do Prior Cunha, fui a primeira pessoa que trabalhei com o José Mendonça para expor os seus trabalhos … e se deu trabalho convencê-lo  !!

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