A frase goza de um sentido claro: a pessoa não tem o hábito de beber (e, geralmente, o referente é o vinho) ou achou, naquele momento, que já bebera o bastante.
Claro, claro não é, porém, tal sentido em
contexto barrocalense, onde, em tertúlia de amigos, o dito significa exatamente
o contrário, naquela entoação irónica que é timbre nosso.
Surgiu-me, de repente, o idiotismo e decidi ir
ver mais acerca do verbo “botar”, pois se usa também, por exemplo, assim:
– Vê lá, não
botes má figura que me deixas ficar mal!
Por
conseguinte, dois significados:
– um, físico;
o deitar;
– outro,
figurado, o de ‘aparentar’, ‘fazer com algum aparato’.
O verbo ‘botar’
tem, afinal, bem ancestrais raízes. Dizem os entendidos que pode assinalar-se
como seu antepassado *bōtan, vocábulo do germânico antigo (uma das
variantes do vetusto indo-europeu que está na base de todas as línguas
europeias), que primitivamente significaria ‘golpear’. Daí terá vindo ‘botare’
no chamado «baixo latim», ou seja, no latim aculturado já com os linguajares
locais, e também o provençal ‘bouter’, empurrar.
Na tertúlia de
amigos, porém, o ‘nam botes’ nada tem de empurrar ou golpear – é,
simplesmente, tomar cuidado, não vale derramar, que todas as gotas se hão de
querer aproveitar em álacre companhia!
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 347, 20-10-2025, p. 13.
Ora por esta é que eu não esperava! De imediato, após a leitura, a Maria Delfina ripostou «Já foi!» e a Maria Helena foi ainda mais longe: «Ia... se eu conseguisse bebia um copo cheio.
ResponderEliminarMas não, sou quase abstémia». Vamos, então, continuar a botar, porque, Helena, não é obrigatório que seja de aguardente de medronho ou de figo, pode ser - porque não? - umas ginjinha!
Por seu turno, a Maria José Matos enviou boneco, com ar todo regalado, de língua de fora a lamber-se! À nossa saúde, querida Mizé!
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