Decerto lhe despertou invulgar curiosidade quanto leu. Sempre apreciou antigas lendas e «coisas velhas» a veicularem memórias de outrora. De facto, sempre nos causa admiração verificar como tantos pormenores com que, no quotidiano, nos vamos cruzando, na pressa em que se nos vai a vida, nos passam totalmente despercebidos, sem que, alguma vez, houvéssemos pensado na hipótese de, também eles, esconderem uma história ou serem testemunhos de mensagem, um dia, pensada como transmissível aos vindouros por um dos nossos antepassados.
Por isso também nem a toda a gente se pode entregar tal tarefa:
«Parte-me por aí nesse concelho, à cata de tudo quanto vale a pena assinalar e conta-nos depois como foi!».
José Carlos Santos tem esse perfil bem adestrado. O livro que ora acabou de folhear é boa prova disso, estou seguro: texto e imagens lhe proporcionaram inesperado percurso pela História desde os tempos mais antigos até quase à actualidade; deram-lhe a conhecer recantos, edifícios, monumentos cujo interesse jamais lhe haviam chamado a atenção. E devo confessar que, tendo acompanhado a par e passo a sua incansável actividade, apreciei deveras a sua enorme capacidade de trabalho, o seu apurado espírito de observação, a par da larga experiência de análise do terreno por estas paragens singulares adquirida, nos últimos anos. De tudo José Carlos Santos meticulosamente deu conta, nestes anos de mui intenso labor. As dificuldades aguçaram-lhe o engenho. Jamais ousou cruzar os braços! E, perante o panorama traçado, facilmente se deduzirá que, como sói dizer-se, em boas mãos esteve o pandeiro: boa melodia dele mui briosa e inteligentemente soube arrancar.
A cada um dos leitores terá naturalmente interessado mais esta ou aquela passagem. Diversas, as reacções. E até a identificação de vestígios arqueológicos ou históricos de relevo pode provocar duas reações visceralmente opostas:
– Sim, é importante, vamos preservar, enobrecer, estudar!
– Chatice! Logo à minha gente deu na veneta ir comprar aquela terra que já os Romanos haviam cobiçado! Azar!
De facto, sabemo-lo bem, qualquer dessas reacções pode pecar por excessiva: nem tudo é para preservar e nem tudo constitui empecilho à justa obtenção de dividendos. Fica aí, no entanto, uma série de pistas susceptíveis de posterior desenvolvimento: os menhires a jazer em sítios quase inóspitos; aquela ara de Longa cujo interesse histórico há a realçar; as inúmeras sepulturas cavadas na rocha; as antigas calçadas e os marcos que delas se registaram; esses silhares almofadados dispersos por aqui e por além; as insculturas em penedias (como a do Penedo Rachado); os capitéis coríntios no muro do cemitério de Santo Aleixo; e, de modo especial, os 39 marcos a assinalar antigas propriedades da Universidade de Coimbra…
Um mundo descoberto, sim; mas também, um mundo ainda por melhor descobrir! Sem cruzar os braços.
José d’Encarnação
Posfácio ao livro Carta Arqueológica de Tabuaço, de José Carlos de Jesus Santos. Câmara Municipal de Tabuaço, Outubro de 2025, p. 305-306.


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