A necessidade aguça o engenho – reza o adágio popular, consubstanciando uma filosofia ancestral. Provam-no, hoje, as inúmeras iniciativas impensáveis há uma década atrás: o regresso ao campo, o estreitamento das relações de vizinhança, as hortas urbanas, a luta contra o desperdício alimentar…
E, concomitantemente, a mentalidade vai mudando.
Assim, não era raro desejarem-me «bom fim-de-semana!» à quinta-feira. Tenho no computador dois desenhos animados. Num, um ratinho levanta-se, boceja, espreguiça-se e, de repente, grita «What? It’s not friday yet?» (“O quê? Ainda não é sexta-feira?» e… deita-se de novo. No outro, é um caracol que caminha, arrasta-se, arrasta-se, sempre no mesmo sítio… e a legenda diz «Continua! É quase fim-de-semana!».
Nas mensagens de telemóvel ou mesmo de correio electrónico, a palavra fim-de-semana já não se escreve por extenso, mas em siglas, e eu próprio já inseri fds nas opções de correcção automática do computador, tão banal é o seu uso diário. «Diário», escrevi bem – porque se vive para o fim-de-semana!
Também esta mentalidade, portanto, vai mudar. E, confesso, já hesito em desejar bom fim-de-semana sem acrescentar algo como «boa semana de trabalho!», pois, na verdade, o fim-de-semana não pode ser um fim, mas um meio para recuperar energias a despender com eficácia durante a semana!
Lê-se no Génesis (2.2): «Deus descansou, no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado». Essa, a mensagem que ora ganha novo sentido e que poderá vir a reflectir-se, doravante, no teor do que escrevemos: desejo-lhe a si, prezado leitor, uma boa semana de trabalho!
J. d’E.
Publicado no Jornal de Cascais, nº 246, 8-12-2010, p. 6.
sábado, 11 de dezembro de 2010
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Prezado Professor e Doutor,
ResponderEliminarÉ extraordinário o quanto concordo sempre consigo!!! Que saudades da excitação que eu sentia, como professora, na preparação da semana de trabalho!!! A publicação no blog da turma do tema e da lista da semana era sempre um desafio que tanto eu como os alunos ansiavamos.
Os seus comentários são sempre 'na mouche'!
Beijinhos
Luisa Bernardes
Entre outros, recebi também o seguinte comentário, que agradeço:
ResponderEliminar- Vanda Fernandes [December 12, 2010 2:11 AM]: «Concordo e subscrevo a opinião.
É lamentável que umas quantas cabeças tenham orientado o país no caminho do empobrecimento material e espiritual.»
Também concordo. E acrescento que o tal «fds» é o espaço temporal mais adequado para darmos bom cumprimento à afirmação do poeta José Gomes Ferreira: «penso nos outros, logo existo».
ResponderEliminarSe falamos em mudança de paradigma, para além do retempero de forças - ou concomitantemente... - esse é o momento mais oportuno também para dar mais mundo ao mundo.
Grande abraço.
Jorge Castro
From: Regina Anacleto
ResponderEliminarSent: segunda-feira, 13 de Dezembro de 2010 00:51
Como quase sempre (e este “quase” corresponde a um sempre, com a ressalva de não haver verdades absolutas no mundo em que nos movimentamos) tem razão. Só é pena que a mentalidade e a educação das pessoas não se guiem por essa pauta.
Um abraço