domingo, 5 de dezembro de 2010

Todos a vêem e… ninguém a lê!

Estuda a ciência epigráfica as inscrições que, ao longo dos tempos, os homens foram deixando sobre materiais duradouros. Mensagem sucinta, pensada, destinada ao futuro, tem, para além do que vem nela explícito, uma mensagem implícita, que se prende com as razões que a determinaram.
Homenageou a Junta de Freguesia de Cascais, no passado dia 5, três pessoas, atribuindo o seu nome a arruamentos. E houve cuidado de se dar conta, através da Comunicação Social, dos motivos que levaram o Executivo a fazer essa proposta, aceite pela Câmara. De César Guilherme Cardoso se escreveu: «Fotógrafo que, ao longo de cerca de 60 anos, registou parte muito relevante da história local em documentos hoje integrados no espólio do Arquivo Municipal de Cascais». Na placa toponímica apenas vem o nome e «(Fotógrafo 1922-2006)». Quem o não conheceu, se apenas se ativer ao que está gravado, fica muito aquém da realidade, como, em relação a outro nome de rua que lhe fica perto, perguntará porque é que um «retratista», António da Silva de seu nome, foi merecedor de perpetuação, pois nada o fará suspeitar das circunstâncias trágicas em que ocorreu a sua morte, no mar da Boca do Inferno quando tentava salvar turista arrebatada por onda traiçoeira.
Urge, pois interrogarmo-nos. E isso não fazem, por exemplo, os autarcas e os munícipes que diariamente transpõem a porta dos Paços do Concelho de Cascais, em relação à placa azulejada ali bem visível. Se nela houvessem reparado…

Não, a ordem das línguas está correcta: corresponde a um período em que essa era a ordem de importância (numérica) dos turistas visitantes: depois do português, o espanhol, o francês, o inglês e o alemão.
Mas…
… que está escrito na placa? Que significa mairie? E town hall? E… “Município de Cascais”? Para já: «de Cascais»? Pois donde houvera de ser, de Sintra?!... E… «município»? Que é que significa «município»? Não é um território e as suas gentes? Não são «município de Cascais» Malveira da Serra, S. Domingos de Rana, Carcavelos?... Pois. O que se deveria ter escrito era… PAÇOS DO CONCELHO!
Está mal.
Há que corrigir!

Publicado no Jornal de Cascais, nº 245, 30-11-2010, p. 6.

3 comentários:

  1. Claro que não acrescentei que, em francês, é 'hôtel de ville' e não 'mairie'.

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  2. E cada vez menos se entende, mesmo quando se lê... Haja florescentes espíritos - e luminosos - como o seu, que nos ajudem a encontrar os caminhos da Vida.

    Grande abraço.

    Jorge Castro

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  3. Apoiado e aprovado! E a confusão que tem sido explicar aos meus amigos residentes estrangeiros onde são os tais «incógnitos» Paços do Concelho, sede da Câmara de Cascais???

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