Encantam-me, não há dúvida, as questões de linguagem, porque reconheço nas palavras e nas expressões uma carga cultural imensa. Não se trata da mera questão de se lhes descortinar a etimologia: «vem do grego», «vem do latim», «vem do árabe»... Interessa-me sobretudo verificar como é que elas passam para a linguagem falada e porquê.
Ao largo de Cascais naufragou, a 9 de Novembro de 1939, um vapor holandês que trazia um carregamento de querosene “para conservação das sulipas”. Ao ler a notícia, admirei-me: sulipas? Que poderia ser isso? Era a versão, em gíria, da palavra chulipa, designativa das travessas de madeira das vias-férreas! O aportuguesamento da palavra inglesa sleeper, «dorminhoco», pois que sobre as chulipas ‘dormem’ os carris!...
E nessa ordem de ideias ando às voltas com a palavra butze, cuja grafia correcta desconheço. Sei, porém, que, quando era catraio e jogava ao berlinde, disputávamos quem é que «tinha mais butze», ou seja, quem é que, com a pancada seca do dedo, conseguia atirar o berlinde mais longe. Nunca mais ouvi a palavra nem tenho a menor ideia donde é que possa ter vindo! Será que era ‘butes’ o que queríamos dizer, como se prantássemos pés nos berlindes para eles se porem a andar?...
Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 158 (Março 2012) p. 10.
terça-feira, 13 de março de 2012
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