terça-feira, 26 de junho de 2012

Naufragou um barco ao largo de Cascais... em 1696!

            Tive ensejo de, na edição de Jornal da Costa do Sol de 8 de Julho de 1972, dar a notícia, em primeira-mão, do achado de «um canhão de bronze florentino do século XVII encontrado ao largo do Cabo Raso». Na informação, veiculada em grande relevo na última página do jornal, com fotografias, acrescentava-se: «O precioso achado está na Capitania do Porto de Cascais, aguardando o parecer duma comissão que ajuizará do seu valor histórico e material».
            No texto se fazia desde logo breve descrição do canhão, recolhido, a 18 de Junho, por José dos Reis Jorge, dono do «Praia da Nazaré», tendo-me demorado na decifração das duas inscrições latinas que apresenta: uma, a localizá-lo no tempo de Fernando II, 5º grão-duque da Etrúria, 1647; a outra, a identificar o fabricante, que eu interpretei como sendo «Obra do génio florentino João (?) Maria». E acrescentava: «Um canhão que certamente Cascais teria interesse em possuir, por se tratar de mais um documento da sua história». As longas diligências deram bom resultado e a colubrina (assim se caracteriza o canhão) pode hoje ser admirada no Museu do Mar.
            Mendes Atanásio viria a publicar, no Arquivo de Cascais nº 3 1981/1982 (pp. 9-15), por entretanto se ter encontrado mais um canhão, uma correcção da interpretação que eu dera: nada garantia, escreveu, que o canhão tivesse sido propriedade (como eu aventara) de Fernando II e, por outro lado, não deveria ler-se Gennii mas Cennii, ou seja, o fundidor da peça fora o florentino João Maria Cénio.
            Vêm estas considerações a propósito de outras descobertas se terem feito, de seguida, no local, e agora tudo João Pedro Cardoso ter compendiado no livro Sobre os destroços da Gran Principessa di Toscana, naufragada nas imediações do Cabo Raso, Cascais, em boa hora editado pela Junta de Freguesia de Cascais (2012) e apresentado no final da tarde da passada sexta-feira, 22 de Junho.
            Em representação do Sr. Presidente, fizeram as honras da casa dois elementos do Executivo: a secretária, Virgínia Bernardino, que saudou o autor e louvou a iniciativa, explicitando que do livro, pelo seu interesse, se iria fazer ampla difusão, nomeadamente pelas escolas da freguesia, e o tesoureiro, José Soares Bernardino. O autor agradeceu a presença dos que quiseram acompanhá-lo agora e ao longo da preparação do volume, assim como a oportunidade da publicação e, também, a da exposição, pois a galeria da Junta abriu portas para mostrar as imagens mais significativas que ilustram a publicação.
Estiveram presentes muitos dos investigadores da Arqueologia Subaquática nacional, nomeadamente o Dr. Francisco Alves, criador da (agora) Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática do IGESPAR, Francisco Reiner (cuja colecção esteve na origem do Museu de Mar D. Carlos I), Mário Jorge de Almeida (investigador do Museu Nacional de Arqueologia), Jorge Freire (investigador de Arqueologia Subaquática que também já prestou serviço no Museu do Mar), técnicos do Museu do Mar, entre outros.
O livro, em formato A4, de 68 páginas, profusamente ilustradas, tem prefácio de Luís Morais Teixeira, que salienta como assim se abre «uma interessante janela sobre o universo do legado patrimonial subaquático e da sua salvaguarda». Depois de se traçar uma panorâmica do que foram, até ao momento, as intervenções no sítio do naufrágio (que se localiza), dá-se conta das fontes escritas existentes acerca do desastre, manuscritos que se transcrevem (transcrição da responsabilidade de Paulo Monteiro); e, após esclarecedor capítulo a introduzir no mundo das designações técnicas, faz-se o catálogo descritivo do espólio (de que adiante se apresenta o rol) e das ilustrações.

             [Publicado no Cyberjornal, na edição de 25-06-2012]

           

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