(In memoriam de Walter de Medeiros)
Deixou-nos, a 29 de Março, p. p., Walter de Medeiros, um dos mais
insignes docentes de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra.
E a primeira imagem que dele me ocorre, sempre que, amiúde, o pensamento
vai para a sua memória é a letra cuidada, perfeita, certinha com que escrevia
uma dedicat ória ou mera nota de
esclarecimento a uma singela questão posta. Desse gesto emanava, assim, uma serenidade
que, porventura, no seu íntimo, seria aparente, mas que nos cala va bem fundo, uma vez que, para assim escrever, mostrava
não estar com pressa nenhuma e nos dedicava. naquele momento. toda a atenção do mundo.
Exacto: a atenção , a
disponibilidade, o saber ouvir atentamente quem quer que fosse são, na verdade,
os traços da personalidade de Walter de Medeiros que mais me tocaram e me influenciaram
também.
E não resisto, por isso, ao evocá-lo aqui, nestas pala vras
singelas, a lembrar as passagens de dois livros que moldaram a minha juventude
e que vão precisamente nesse sentido:
«Há, na narrativa da Ressurreição ,
um pormenor cheio de delicadeza – o lençol do Ressuscitado estava dobrado (João,
XX, 6-7). Traço tangível de gestos comedidos, dos quais for excluída toda a precipitação . Símbolo da calma que envolve todas as obras de Deus»
(p. 15).[1]
«Não digas a quem te visite: “Só posso receber-te por um instante, não te
mando sentar… etc…», enquanto o recebes um quarto de hora ocupando-te de outra
coisa. Manda-o sentar e atende-o dez minutos, calmamente, dando-lhe a impressão
que lhe dedicas todo o teu dia». [2]
Era assim Walter de Medeiros: um Homem que a todos tratava como pessoas!
Publicado no
quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 594, 01-06-2012, p. 10.
[1] Hélène Lubienska de Lenval, Silêncio, Gesto e Pala vra,
Aster, Lisboa, 1961, tradução de
Jaime Cunha. Título original: Le Silence a l'Ombre de la
Parole, Ed. Casterman – Maredsous, 1961.
[2] Michel Quoist, Construir, Livraria Morais Editora,
Lisboa, 1965, p. 122.
Recordando Walter Medeiros, antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Estudos Clássicos).
ResponderEliminar