Constituiu um êxito, do ponto de vista organizativo e científico, o XI
Congresso Internacional de Reabilitação do Património Arquitectónico e Edificado,
que teve como tema «O Património Ibérico» e se realizou em Cascais, de 12 a 15 de Julho, p. p.
Nem sempre se dá o devido relevo a
uma reunião científica internacional no que ela realmente significa para a
localidade em que é levada a efeito. Na verdade, tal resulta de uma deliberação
prévia da sua Comissão Internacional, em que são tidos em conta os mais
variados factores, desde os meramente logísticos aos que se prendem com as características
das entidades locais no que ao tema da reunião diz respeito. Do ponto de vista económico
e turístico, a vinda de centenas de participantes corresponde a um incremento
do consumo e, de regresso, se as impressões tiverem sido boas, cada participante
é veículo privilegiado (porque culto) de uma promoção boca a boca, que resulta
melhor do que panfletos e outras campanhas nem sempre devidamente estudadas nem
correctamente endereçadas ao público adequado.
Está, pois, de parabéns a Câmara
Municipal de Cascais por ter aceitado a proposta que lhe foi endereçada através
do ICES – Instituto de Cultura e Estudos Sociais, associação sem fins
lucrativos fundada a 10 de Junho de 1998, sediada em Cascais, em instalações camarárias,
posto que a sua actividade se desenvolve em estreita articulação com a Câmara,
tendo como parceiro a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Como se
sabe, tem sido o ICES o organismo promotor dos mediáticos Cursos Internacionais
de Verão, que, orientados para temas específicos e de actualidade, trazem à
vila especialistas de renome nacional e internacional. Coube também ao ICES a organização
de um Mestrado em Estudos Regionais e Autárquicos, que, a
exemplo do que já se fazia em Coimbra – aí numa estreita colaboração entre o
Centro de Estudos e Formação Autárquica (CEFA) e a Faculdade de Letras – visa dar formação específica a quem, já licenciado,
pretenda seguir uma careira de âmbito cultural numa autarquia.
Cascais, sede de uma organização
internacional
Está o ICES filiado numa federação
que congrega os CICOP – Centros Internacionais para a Conservação do
Património. Por isso, a Câmara Municipal aproveitou sabiamente o ensejo de aqui organizar este
congresso para apresentar a sua candidatura de instalação em Cascais da
sede do CICOP Europa. Havia mais duas candidaturas, a da Itália e a da Grécia,
países em que as problemáticas do restauro e da conservação do património edificado
são devidamente acauteladas; mas a votação recaiu sobre Cascais, que assim se
une a Nova Iorque, Buenos Aires, Havana e La Laguna (Tenerife), como
cidades-sede da Federação.
Ao receber a informação, o
presidente do Município não hesitou em afirmar que, se a decisão nos honra, «acarreta
também uma grande responsabilidade», pois importa «fazer tudo para estar à
altura da vossa confiança e de podermos beneficiar do vosso conhecimento e
talento».
Trata-se, de facto, de uma responsabilidade acrescida, com que
muito nos congratulamos se a Câmara a não enjeitar. E, para isso, é urgente dar
uma atenção cada vez maior ao património cultural, nas suas diversas vertentes,
designadamente a edificada e a paisagístico-ambiental.
Foi pecado mortal paisagístico a construção do Estoril
Residence. Esperemos que não venham a constituir outros pecados mortais a excessiva
volumetria prevista para o que vai substituir o emblemático Hotel Atlântico, em
fase de desmantelamento, ou o projecto que se arrasta para o local do Hotel
Miramar, destruído por um incêndio em 1975, no Monte Estoril.
A Câmara tem agora, nesse domínio, mais dilatada responsabilidade.
E outros pecados mortais se antojam no horizonte: o que vai fazer-se do
Cruzeiro, também ele edifício emblemático do Monte Estoril (goste-se ou não da
sua traça, que foi a de uma época)? Como se resolvem (ou dissolvem) a esquelética
carcaça em frente à estação dos caminhos-de-ferro de Cascais, uma vergonha à
entrada da vila, ou o amarelão de Troufa Real, de azulejos a cair, possível
super-esquadra da PSP, plantada em cima do passeio e que nunca mais ata nem
desata?...
O património paisagístico
Lutámos muito para que a A5 se não
prolongasse até ao Guincho, porque tínhamos a certeza de que rapidamente se
cederia à tentação de urbanizar o espaço envolvente. Ora, toda essa zona do Mato
Romão, ou seja, desde S. Gabriel até à gurita (o marco geodésico do Selão) representa
imprescindível salvaguarda da vila de Cascais. O mato que a cobre, além de ser repositório
de espécies endógenas, é local de nidificação e, sobretudo, é o solo permeável
que absorve as águas pluviais, impedindo-as de, em enxurrada, entrarem pelas
povoações a jusante: Birre, Pampilheira, Cascais ocidental e Parque Marechal
Carmona. Não podemos esquecer que é aí que nasce o Rio dos Mochos!
Lutámos contra a peregrina ideia de
aí se instalar uma cidade do cinema; ao que parece, porém, a urbanização desse
espaço estará de novo, incompreensivelmente, em cima da mesa, no PDM.
Incompreensivelmente, porque o parque habitacional do concelho já é mais do que
suficiente; incompreensivelmente, pelas razões ecológicas apontadas.
Sede europeia do CICOP, Cascais assume-se,
pois, como defensora inquebrantável da biodiversidade, do património edificado
que se deseja preservável, reconstruído, autêntico. Basta de super-esquadras,
basta de «três parcas»! Que os senhores arquitectos famosos se inspirem no que
foi feito em Janes, onde podem, perfeitamente, dar azo à sua imaginação e
criatividade, mas… respeitando o ambiente e o enquadramento!
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 319, 01.08.2012, p. 6].
Boa noite. Desconhecia a existência de novos planos urbanísticos para o Mato Romão.
ResponderEliminar" Cheira-me " que mais dia menos dia vamos ter ali, então, o incêndio ( zinho ? )da ordem para depois surgirem, de imediato, os famosos quão nefastos " planos de recuperação da área queimada ".Foi assim na Quinta da Marinha, no Abano, na Penha Longa e sei lá mais onde.
Oxalá me engane.Oxalá.
Cumprimentos.
Zé.