quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Na Prateleira - 16

Eiras de Birre – evocação
            Na autêntica enciclopédia Saloios de Cascais, de Micaela Soares (CMC, 2013), aborda-se (p. 144-148) o ritual da debulha, feita, até à década de 60, em eiras lajeadas, que também aí são descritas.
            Lembrei-me agora de recordar – porque temo que venha a ser esquecido – quantas existiam então no lugar de Birre.
            Logo à entrada, para quem vem do alto do Zé Florindo, era a primeira, onde se situa hoje a Farmácia Birre: a dos Calça-a-Bota.
            Na povoação, mesmo junto à estrada principal e para sudoeste do chafariz, a do Ti António Fernando, cuja casa agrícola com todas as dependências (vacaria, palheiro, currais…) se localizava no coração da aldeia.
            Mais para sudoeste, à sombra de um grande pinheiro manso, à direita do caminho que ia para o poço (hoje, Rua dos Malmequeres), era a do Silvino Capelas, proprietário também, aliás, de próspera horta onde é o MacDonalds e de um pomar junto ao Rio dos Mochos, aonde era sedutor irmos roubar ameixas....
            Do lado norte do lugar, já a caminho das pedreiras (hoje, Rua das Papoilas), era a do Zé Apolinário, cujas terras principais ficavam ao fundo, na margem esquerda do Rio dos Mochos, no sítio onde, muitas décadas atrás, houvera seu centro Birre de Baixo e tinha fonte, bebedouro para os animais e tanques de lavar roupa. Zé Apolinário passava parte das tardes numa espécie de alpendre, ao lado de grande casa onde nunca soube o que havia e daí nos bradava, assustador, quando nos empoleirávamos nas nespereiras ou nas figueiras, à vinda da escola do Ereira…

«Rugas de sabedoria»
            A 9 de Outubro do ano passado, realizou-se, em Santiago do Cacém, o XXI Encontro de Idosos da Zona Sul do Distrito de Setúbal. Tema: «Rugas de sabedoria»! Assinala a notícia que a tarde de convívio constituiu «uma autêntica lição de vida».
            Que nome bonito para tema tão cativante!
 
Boca forjada
            O meu amigo e vizinho Carlos comprou um alicate de pressão «made in P. R. C.», que significa «feito na República Popular da China». Foi, porém, importado por uma firma portuguesa, que se encarregou de o identificar em português e em castelhano. Aí se explica, por exemplo, que terá «boca forjada para uma maior durabildade». Não sei o que significará exactamente ‘forjada’: se foi à forja, se tem um preparado especial para lhe dar maior… durabilidade!…
            A mim preocupa-me é a cada vez mais frequente ocorrência de erros ortográficos e gramaticais nos rótulos dos produtos à venda. Não apenas nos que se importam mas até nos fabricados no nosso País em conceituadas casas que deveriam prezar a boa comunicação, inclusive para lhes aformosearem a imagem.
            Urge recriar nas tipografias a figura do revisor!

Abreu Nunes
            Feliz hábito, esse, da Sociedade Propaganda de Cascais: o de nos presentear pelo Natal com um postal evocativo de uma paisagem da Cascais antiga ou de uma figura relevante dos seus anais. Este Natal, o homenageado foi Augusto Jayme Telles deAbreu Nunes (1891-1966). Historia-se, a traços largos, a sua acção em prol da Sociedade. Participou, em 1934, na organização do primeiro concurso hípico de Cascais, onde é hoje o Hipódromo Municipal. Foi, durante cinco anos, desde Outubro de 1939, o primeiro presidente da Junta de Turismo da Costa do Sol. Tem o seu nome perpetuado num dos arruamentos do Cobre, desde 4 de Maio de 2012.

Depressa – devagar!
            Há frases que se tornam norma de vida; outras que, por tão repetidas, acabam por não nos merecerem, afinal, a atenção que merecem. Por exemplo, «quanto mais depressa, mais devagar!». A aconselhar-nos que, se temos pressa, há que guardar serenidade, para melhor nos concentrarmos e, assim, mais rapidamente levarmos a tarefa ao fim.
            Não raro será, de facto, que, na actualidade, com os computadores, o nosso comportamento não siga aquela norma: damos uma ordem, queremos uma resposta imediata e, se não vem, repetimos a ordem, voltamos a repetir e… o computador baralha-se todo e tudo se atrasa, porque ele também foi habituado a fazer uma coisa de cada vez, como mandam as normas!
            Mas… ele há tanta coisa que nós gostaríamos que andassem mais depressa e andam tão devagar! Os recebimentos, por exemplo: demoram, demoram!... Em contrapartida, os pagamentos … porque é que são sempre pra ontem?!...

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 31, 05-02-2014, p. 6.

 

2 comentários:

  1. Paulo Pimenta, director do jornal "O Correio da Linha":
    «[...] Estou muito de acordo com o teu texto "Na Prateleira", quando afirmas e muito bem..."Urge recriar nas tipografias a figura do revisor." Mas o tempo nos jornais é tudo para ontem, mesmo existindo organização, e o tempo, neste tempo actual, é tão veloz! Antigamente, no tempo do jornal "O Tempo", o "Jornal Novo" e muitos outros, existia tempo para os revisores lerem as provas e corrigirem os erros; hoje, com a era dos computadores, é o tempo que passa mais veloz do que o tempo de antigamente. Como também dizes, a comparação entre o devagar dos recebimentos e a rapidez dos pagamentos...».

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