terça-feira, 11 de março de 2014

Entretenha

             Dias tristes, estes, de um Inverno rigoroso, catástrofes apocalípticas, provocadas pela insanidade humana que desrespeita a biodiversidade e comete nefandos atentados ecológicos. É o que dá!
            Havia, outrora, o tronco carcomido de alfarrobeira, serenamente lambido pelas chamas que afastavam humidades – que as paredes já as reviam!... – e fomentavam convívio. A entretenha antes da deita.
            – Que é que estás pr’aí a escarafunchar? (Era o meu pai a ajeitar um tronquinho que se escapulira do fogo e minha avó queria ‘conversa’!...).
            – Estou a espevitar o lume, Ti Bia dos Santos! Este tronco deu-lhe uma sulimpampa (não viu?) e atirou-se cá para fora. Mas olhe que a sua tenaz já não tem jeito nenhum, é roscofe patente! Precisa de uma de marca corneta!
            E ríamo-nos.
           
«Roskopf patent» era o que se lia no mostruário dos relógios baratos de bolso que Georges F. Roskopf (1813-1889) fabricara, uma patente tão mal vista que «roscofe» se aplicava a tudo o que não prestava! A corneta (dessa me lembro, tinham as tesouras, os alicates… uma corneta gravada) era, ao invés, sintoma de muito bom aço!

            Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 182, Março de 2014, p. 10.

3 comentários:

  1. Joaquim Isqueiro comentou:
    "Eh,eh,eh... muito bem lembrado, amigo. Aplicando à nossa realidade, dir-se-á que temos uma grande proliferação de "Roscofe's" e a "Marca Corneta" em vias de extinção...Grande abraço, amigo."

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  2. Inspirado pela sabedoria popular que a ciência académica nunca destruiu, antes a refinou. Li este artigo, interessantíssimo e muito bem feito, com um gosto muito especial.

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  3. Aurora Martins Madaleno comentou:
    "Este é mesmo de marca Corneta, Senhor Professor!"
    E eu fico muito sensibilizado com a sua apreciação, amiga Aurora!

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