sexta-feira, 6 de junho de 2014

Fez cem anos o concelho de S. Brás de Alportel

            Era S. Brás a freguesia mais populosa do concelho de Faro e nela estava em franco progresso a rendível indústria da cortiça assim como, no âmbito político, a ideologia republicana, que tinha em João Rosa Beatriz um dos seus maiores paladinos.
            Não havia, pois, razão, até porque as suas gentes e o seu território ostentavam uma identidade muito própria, para se manter integrada num concelho cuja sede estava junto ao mar. Assim, após porfiados esforços e diligências, lograram João Rosa Beatriz e os seus companheiros que fosse aprovado e publicado em Diário do Governo, a 1 de Junho de 1914, o diploma que elevava a concelho a freguesia de São Brás, com a denominação de Alportel.
            Houve, pois, razão sobeja para que, no passado dia 1, se desse início a vasto programa de iniciativas que visam comemorar condignamente esse centenário.
            A jornada começou às 10 horas com a presença frente aos Paços do Concelho, para o solene içar das bandeiras, de todas as forças vivas são-brasenses. Perante elas e apareceu inesperadamente à janela «João Rosa Beatriz», a falar aos seus concidadãos e a incitá-los a manterem-se são-brasenses de corpo inteiro, fazendo jus à luta que lograra obter, há cem anos atrás, tão auspiciosa vitória.
            Seguiu-se vistoso cortejo, a que o variegado colorido dos estandartes e dos trajes típicos de cada entidade ali representada emprestou beleza singular. O destino era a Praça da República, espaço até ao momento sem outro préstimo que improvisado parque de estacionamento. Descerrou-se a placa – a enaltecer o republicanismo dos fundadores do concelho – e, mui organizadamente sentadas as várias representações que por completo encheram o espaço disponível, deu-se início à sessão solene.
            A medalha do centenário foi entregue às entidades que exercem a sua actividade no concelho nos mais diversos domínios. Intervieram, sempre numa tónica entusiasmada e de evocação do passado, de louvor ao presente e de esperança no futuro, o presidente da Assembleia Municipal, o Comissário das Comemorações, o Presidente da autarquia e o vice-presidente da Assembleia da República (Guilherme Silva). Foram, por fim, agraciadas com as insígnias municipais entidades e personalidades que se distinguiram em prol da comunidade.
            Dado ser também o Dia da Criança um dos jardins da vila, o Jardim Carrera Viegas, foi palco das mais diversas iniciativas para a pequenada.
            Às 17 horas, inaugurou-se, na Galeria Municipal, singela mas bem elucidativa exposição evocativa dos cem anos do concelho e, às 18 horas, cumpriu-se a tradição de ir ao cemitério depositar uma coroa de flores no jazigo do fundador do concelho.
            À noite, a Praça da República encheu-se de novo, agora para acolher o entusiástico concerto de Miguel Gameiro & Pólo Norte. Cantaram-se os parabéns, cortou-se o bolo – que foi servido a todos os presentes. Excepcional e invulgar fogo-de-artifício, obra também de uma tradicional empresa local, a Algarpirotecnia, a todos deliciou, a concluir.
            Sito bem no coração do Algarve, no Barrocal, entre a planície costeira e a Serra, ponto de passagem entre uma e outra desde mui recuadas eras, S. Brás de Alportel vive da cortiça, da doçaria, do cultivo de figueiras, oliveiras e alfarrobeiras, sendo abundante em água. Por ali passaram romanos; por ali fez os seus poemas o poeta árabe Ibn Ammar (1031-1086) e ali vendeu cautelas e disse quadras ao desafio António Aleixo (1899-1949); e derramou seu lirismo Bernardo de Passos (1876-1930)…
            Pode acrescentar-se que, em torno do seu Museu do Trajo Algarvio – na verdade, um museu regional no verdadeiro sentido da palavra – sito em vasta casa senhorial bem no centro da vila, gira e viceja toda uma vida cultural intensa, particularmente lançada para cimentar comunidade não apenas entre os são-brasenses por nascimento mas também – e de modo muito especial – entre os são-brasenses de adopção, ou seja, os membros das várias ‘colónias’ estrangeiras que escolheram a amenidade do clima e as belezas naturais de S. Brás para viver e delas plenamente usufruírem.
            E durante os 365 dias das comemorações maior será ainda esse interesse em manter o concelho entre aqueles em que mui serenamente apetece viver. Não terá sido, aliás, por mera coincidência que S. Brás de Alportel foi das primeiras vilas portuguesas a aderir ao movimento slow cities, criado em 1999 para congregar ‘cidades’ «ajustadas à escala humana, com os centros históricos preservados e os edifícios novos harmonizados», tendo «como objectivo a preservação das tradições locais e a promoção da qualidade de vida».
 
Publicado em Cyberjornal, edição de 05-06-2014:

 

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