1
Quando,
sob o actual logótipo do município de Cascais, se apôs a bonita frase programática
«Elevada às Pessoas», regozijei. Até que enfim, uma instituição proclamava querer estar ao serviço das pessoas e
não de credos económicos, políticos ou religiosos. As pessoas acima de tudo!
Intenção boa, exemplar.
2
Quando se legislou a
obrigar ao inventário pormenorizado do que levava dentro a carrinha da instituição particular de solidariedade social, teve-se
também em atenção a pessoa.
Importava que, mesmo dedicando-se, sem auferir um cêntimo, a essa nobre causa
de ir levar comidinha ao velhote entrevado e sem família, o voluntário tivesse
os pés bem assentes no chão e soubesse o que andava a fazer. Quantas malgas de
sopa, quantos pãezinhos, quantas peras… Num mundo organizado, tem de ser assim.
Há que contar com o tempo necessário para esse minucioso inventário. Tem que
ser!
Ou, se fores fazer assistência
domiciliária, quantos sabonetes, quantas toalhinhas, quanto champô gastaste…
Pessoa que se preza tem de andar na linha, pois claro!
3
Quando, por via de uma
emenda legislativa, se proibiu os aposentados de – mesmo gratuitamente –
partilharem em aulas ou em cursos e conferências o saber por décadas adquirido,
estava-se, claro, a pensar na Pessoa! Estava aposentada, não estava? Pronto, já
deu o que tinha a dar! Fique-se aí num canto, a olhar pró infinito, que é serenidade
a sorver!...
4
Quando se pede ao investigador
que declare que livro vai escrever daqui a cinco anos, é exigência de planeamento!
A Pessoa não pode andar aí ao Deus dará, sem ter planeado o que vai fazer daqui
a cinco anos! Não pode!
5
Quando, para completar a
informação acerca
de uma estrutura arqueológica, passível de obter-se em dois dias de sondagem,
te exigem projecto a desenvolver em quatro anos, tens de compreender: sem
projecto de a longo prazo e sem uma equipa pluridisciplinar, não és nada, não
és Pessoa com letra maiúscula.
6
Quando, para dares à Santa
Casa da Misericórdia miúda parcela de terreno de que pagas 0,50 euros ao ano de
contribuição , te exigem insuspeitados
documentos, a provar que a terra é mesmo tua, não a roubaste, foi legitimamente
herdada… claro que tudo se passa no legítimo interesse da Pessoa, a Pessoa acima
de tudo. A Pessoa desiste e não faz a doação ,
que lhe custaria, em papelada, mais do que cem anos de dízima e tantos já ela
não conseguirá viver! Mas não devia desistir!
Conclusão
Daí, no final deste mui sucinto
rol, nos vir à cabeça a pergunta: eles são
pessoas? Eles, os que assim legislam e a quem, com o nosso voto, demos tal
poder.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos
de Oeiras e Cascais, nº 95, 03-06-2015, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário