sábado, 10 de outubro de 2015

Nervoso miudinho

             Era expressão que se ouve muita vez, em relação, sobretudo, a crianças ou idosos, uma vez que repentes desses são mais raros – ou deveriam sê-lo!... – em quem já bebeu da vida a experiência necessária para relativizar acontecimentos e reconhecer, serenamente, crente ou não, que nada, afinal, nos acontece por acaso.
            Pois o diacho do homem era assim. Não lhe fizessem a vontade, ficava logo cheio de nervoso miudinho e muita vez nos virava costas e saía de rabo alçado! De manhã, então, quando no dia anterior se combinara um trabalho…
            Já viste, Manel? O tempo não tá capaz, tá de fosquinhas!…
            … virava costas e abalava nunca se sabia bem para onde. Uma tristeza sem mezinha!...
            Gosto do «rabo alçado» – como gato ou cão que adivinha tempestade e foge enquanto é tempo! Gosto do «nervoso miudinho», para dar aquela ideia de que treme muito, não está quieto, sem mão em si; e a criação do substantivo a partir do qualificativo… óptima!
            De fosquinhas – negaças, caretas… – já falámos. Como se o céu e suas nuvens connosco brincassem aos palhaços.
            De mezinhas todos sabemos também; mas custa-nos muito quando a situação é de tal modo grave que só a podemos classificar de «tristeza sem mezinha»!…

                                                           José d’Encarnação

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 201, Outubro de 2015, p. 10.

 

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