É que estou numa fase em que, semana
a semana, tenho felizmente conseguido, um após outro, dar caminho a assuntos
que há anos estavam pendentes. E não imagina a consolação
que é!... Como quem desfolha um calendário: “Este já passou, vamos a outro!”. Deve
ser assim, porventura, na escusa cela duma cadeia, ou em tempo de guerra no
campo de batalha, ou em atribulada viagem. Uma sensação
de alívio!...
Surgem-me, por isso, as frases de
dois autores cujos livros estão (creio que já o disse) na minha mesinha de
cabeceira.
A primeira:
«Pensas sempre que a vida é para
amanhã:
amanhã farei isto…
amanhã terei aquilo…
amanhã serei…
Porque esperas por amanhã para viver?
Um dia, para ti, não haverá mais amanhã e não terás vivido».
(Michel Quoist, Construir,
Lisboa, 1965, p. 146).
A segunda:
«Tem-se o sentimento de que é
preciso, por exemplo, escrever uma carta, e não se escreve essa carta. Os dias
passam; conserva-se este pensamento como um remorso que se vai exasperando».
(Mário Gonçalves Viana, A Arte de
Estudar, Porto, 1943, p. 255).
Assim, passe a comparação , em clima eleitoral: o futuro, senhores, é que
vai ser bom, porque nós vamos salvar
o mundo! «Vamos»: o futuro. E… cadê o presente?
Li numa tasca: «Tomorrow the
beer is free!». Excelente ideia , pensei, amanhã, venho cá tomar um copo! E esquecia-me,
naturalmente, da outra frase, mui sábia também: «Tomorrow never cames!»: o
amanhã não existe, é sempre para o dia a seguir!...
Nunca imaginei, confesso, que retirar,
uma a uma, as folhas do calendário a marc ar
dias bem preenchidos pudesse trazer tamanha serenidade!
José d’Encarnação
Publicado no quinzenário Renascimento
(Mangualde), nº 671, 15-10-2015, p. 12.
De: António José Silva Pina
ResponderEliminarEnviada em: sexta-feira, 16 de Outubro de 2015 16:51
«Caro Amigo,
Gostei imenso do seu comentário. Acho que a qualidade de sentimento que colocou no texto resulta de, "Nunca imaginei, confesso, que retirar, uma a uma, as folhas do calendário a marcar dias bem preenchidos pudesse trazer tamanha serenidade!"
Bem haja
Forte abraço».
Margarida Lino, 15-10-2015, 19:23
ResponderEliminarNão posso adiar muito mais, o meu tempo começa a ficar curto, beijos!
Alice Alves Oliveira, 15-10-2015, 19:25
O meu também, mas sofro desse mal.
Maria Conceição Neves 15-10-2015, 19:33
Gostei e, realmente, o amanhã é uma incerteza! Beijos!
Carriça Mendes de Almeida 15-10-2015, 23h
Com 69 anos, o meu tempo já não dá para adiar. E que bom foi ler o seu artigo! Sempre a aprender consigo.
Jota Be 15-10-2015, 21h
Sempre atento, sempre fiel.
Aurora Martins Madaleno 16-10-2015, 01:05
Muito bom nestas Notas, Professor!
José Morais Branquinho 16-10-2015, 09:18
Magistral!
Maria do Céu Campos 16/10 às 19:55
ResponderEliminarComo sempre, consegue verbalizar coisas que sentimos e nem sempre nos lembramos de expressar. Parabéns.
Norma Musco Mendes 17/10 às 2:24
ResponderEliminarGostei! Amigo, na nossa idade o amanhã já é tarde!!!!!