quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A notícia que eu não gostaria de dar

            Gostei de ver, na RTP 1, circunstanciada reportagem sobre a abertura das novas acessibilidades. Itinerários na vila por onde pausadamente se circule – não fora S. Brás uma slowcity, convite a caminhada serena, à apreciação da Natureza e a dois dedos de conversa com a vizinha «Olá, como vai ? E a sua gente?».
            Gostei de saber que a nossa dinâmica empresária da cortiça está – felizmente! – de vento em popa e eu até tenho bolsa de cortiça para o telemóvel, a fim de fazer publicidades às nossas produções!
            Gosto da intenção de se arranjarem os caminhos vicinais e da ideia de se pensar em, oficialmente, se lhes dar nomes quer tornando oficiais os que são de tradição quer outros de eventual homenagem a tantas personalidades são-brasenses que, por exemplo, a investigação levada a cabo por ocasião do centenário soube trazer à luz da ribalta.
            Não gostava, porém, de saber que S. Brás de Alportel aspirasse, um dia, a ser cidade, embarcando, de olhos vendados, nesse vapor do novo-riquismo ambulante. Um dos partidos concorrentes às autárquicas chegou a pôr essa intenção no programa, mas soube desistir a tempo. Cascais não é cidade nem quer ser; Sintra não é cidade nem quer ser; Oeiras não é cidade nem quer ser; Madrid – a mui nobre ‘villa de Madrid’ (o seu ayuntamiento diz-se ‘de la villa de Madrid’!...) – só teve de ser cidade porque os bispos, vindos da vizinha Alcalá de Henares, acharam que deviam ir contra a tradição, não fossem os seus privilégios ser desdoirados… Entre nós, Almada é cidade, Amadora é cidade, Loures é cidade!...
                                                               José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 230, 20-01-2016, p. 11.

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