quarta-feira, 15 de junho de 2016

Prevenção e repressão

            Fui educado nas escolas salesianas, onde se praticava o chamava «sistema preventivo». Eu próprio, como docente, o pus em prática quer no Ensino Básico e Secundário quer mesmo na Universidade.
            É muito simples: tu arregaças as mangas e, nos intervalos, jogas com os miúdos; e, na sala de aula, passeias-te pelo meio da turma. Em sadia convivência.
            Duas grandes vantagens: os meninos nem sequer notam que estão a ser observados (e o docente compreende melhor, assim, algum das irregularidades ocorridas); e tu, só com a tua presença amigável, evitas turbulências.
            O contrário é a repressão, que caminha a par e passo com a falta de motivação. Aluno a quem não lhe apetece fazer nada há-de ser incentivado, mostrando-lhe serenamente o lado positivo da actividade.
            E ocorrem-me, a este propósito, duas histórias.
            ‒ Na pausazinha, não?
            ‒ Pois. Não ma pagam, faço-a!
            A senhora estava sentada, com ar de quem carrega o mundo e, por isso, eu ousara meter conversa. A resposta deixou-me, porém, sem palavras. Se lhe pagassem a pausa, não a faria? E nunca lhe terá sido explicado o significado profundo da pausa para almoço?
            Completamente desmotivada a senhora, a deixar o tempo escorrer, triste, de braços cruzados.
            A outra história documenta, ao invés, enorme motivação, uma quase lavagem ao cérebro. Garantem que a não fazem, que educam para a cidadania (como sói dizer-se) e eu acho que a cidadania se faz com pessoas e não com autómatos.
            Deixas o carro mal estacionado por três minutos, porque careces de ir à caixa multibanco; nesse local até não prejudica nada o trânsito; acontece, porém, que umas semanas depois, acabas por verificar que te saiu bem caro esse levantamento. É que passou o super-presente carro-patrulha, anotaram matrícula, dia, hora e local e… tu de nada te apercebeste. Agora… paga que se faz tarde!
            «Nós somos os estrénuos defensores da legalidade, foi assim que nos industriaram! As pessoas não contam, conta é o dinheiro que vai entrar para os cofres e os pontos que, meninos bem mandados, vamos assim acumular!».
            Aos homens e mulheres-bomba de quem diariamente vamos sabendo nos noticiários não prometem pontos nem promoções, mas sim eternos oásis, povoados de huris!...

                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 687, 51-06-2016, p. 12.

 

1 comentário:

  1. Transcrevo dois que foram exarados no FB:

    Aurora Martins Madaleno
    Li. Temos de aproveitar ler estas coisas com sentido, porque há tanto escrito por aí de que nem os políticos gostam!


    Ana Teresa
    Olá Professor. Em 1º lugar tive que ir ao dicionário ver o que são huris. Em 2º lugar eu, a esses "que-se-julgam-super-agentes-cegos-e-despojados-de-sentimentos" chamo-lhes ABUTRES. Era bom fazer saber ao Sr. Carlos Carreiras a MÁ, PÉSSIMA imagem que o executivo da Câmara Municipal de Cascais está a ganhar junto dos Munícipes-Pagadores-de-Altíssimos-Impostos e que tudo o que precisam é de um lugar para deixar o carro enquanto vão trabalhar honestamente para contribuir com os seus impostos (trabalho desonesto não paga impostos) para esta parasita gestão municipal.

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