segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Miradouros dos três sentidos!

             Franziram o sobrolho os meus estudantes de Política Cultural Autárquica, quando, pela primeira vez, há largos anos, lhes falei dos miradouros, no quadro da valorização do património paisagístico. Claro, a palavra não lhes era estranha, até porque já tinham estado em alguns; mas não haviam consciencializado a sério o significado que o miradouro deve ter.
            A palavra formou-se a partir do verbo mirar, que, por sua vez, vem do latim mirari, que significa admirar-se, ficar assombrado, surpreendido. Por conseguinte, essa a função do miradouro: surpreender.
            Diria que, no miradouro, há três sentidos que devem estar bem alerta: a visão – para se apreciar o panorama; o ouvido – para nos apercebermos dos sons naturais que nos envolvem (é crime de leso património ir a um miradouro de auscultadores nos ouvidos!...); e o olfacto – para sorvermos a longos haustos o que ali é natural.
            Cientes da relevância que os miradouros detêm, as autarquias começaram a dar, nos últimos anos, maior atenção a esses sedutores pontos-chave oferecidos pela paisagem. Guardei, por exemplo, o convite que o Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel me endereçou para participar na cerimónia de inauguração do Miradouro da Cabeça de Velho, no começo da tarde de 24 de Março de 2007. Também nesse aspecto, a nossa autarquia tem sido precursora.
            O miradouro será, pois, naturalmente, o transmissor de um sentimento positivo, de bem-estar, de descoberta, de comunhão com a Natureza. A deixarmo-nos embeber de tudo aquilo que de bom derredor nos pode ser transmitido. Fotografar? – Sim, mas selectivamente e só depois dos tais longos momentos de saboreio, para não nos acontecer como aquele oriental a quem perguntaram se tinha gostado da viagem e ele respondeu:
            – Ainda não sei bem, porque ainda não vi as fotografias todas!...                       

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 237, 20-08-2016, p. 11.

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