quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Para uma história das artes em Cascais

            Foi pequena a galeria do Casino Estoril para acolher quantos quiseram obsequiar com a sua presença o seu director, Nuno Lima de Carvalho, de quem nesse dia se apresentou um livro de cariz autobiográfico, intitulado “Duas Vidas, Muitas Vidas”. Duas vidas, a sua e a de sua mulher, Dra. Clarinda († 2015), que sempre o acompanhou; «muitas vidas», porque Lima de Carvalho aproveitou o ensejo para dar conta das muitas dezenas de artistas que, ao longo de mais de 40 anos, expuseram na galeria.
            Prestaram testemunho: Licínio Cunha, que foi Secretário de Estado do Turismo e Presidente da Junta de Turismo do Estoril, o pai da ideia de se fazer em Cascais um museu de Arte Infantil, a partir dos salões que periodicamente se realizavam na galeria do Casino; Carlos Magno, jornalista de largo mérito e Presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social; Joaquim Lima Carvalho, professor de Belas Artes, que amiúde integrou júris dos salões de arte da galeria; e Ramon Font, jornalista catalão, amigo pessoal do autor, que muito tem acompanhado a actividade cultural da Estoril-Sol.
            Vivamente emocionado, Lima de Carvalho a todos agradeceu, sublinhando que assim via concretizado um sonho há muito acalentado, porque rica tem sido a sua experiência na convivência com os mais destacados vultos da Cultura nacional e estrangeira e havia histórias a registar em livro.
            Encerrou a cerimónia Choi Man Hin, Presidente da Estoril Sol: este livro, disse, constitui «um importante testemunho sobre mais de 40 anos da história do Casino Estoril e do seu papel determinante no desenvolvimento do turismo nacional, consolidado em iniciativas precursoras, algumas de dimensão internacional, nos domínios da Cultura, da Arte e do Espectáculo».

Uma personalidade e duas iniciativas goradas.
            A personalidade: o escritor Jorge Amado passava o Verão em Cascais e era amigo pessoal de Lima de Carvalho. No livro são-lhe, pois, dedicadas inúmeras páginas, que vale a pena ler, pelo carácter pitoresco de que se revestem.
            Duas iniciativas goradas e sempre lamentadas por quantos se interessam pelas manifestações culturais:
            ‒ a acanhada falta de visão das autoridades locais que mandaram destruir centenas de trabalhos feitos por crianças – nacionais e estrangeiras –, que haviam sido premiados nos salões de arte infantil e que constituía o espólio privilegiado para o Museu de Arte Infantil preconizado por Licínio Cunha e prontamente acarinhado por Lima de Carvalho;
            ‒ a ainda mais acanhada falta de visão dessas mesmas entidades autárquicas, que menosprezaram a ideia de se criar um Museu da Arte Naïf – que acabou por ser aberto em Guimarães, com sucesso notável. Ainda houve uma tentativa de um Espaço Naif, inaugurado por António Capucho, a 30 de Setembro de 2005, nas Arcadas do Parque, no Estoril, instalações da antiga Junta de Turismo, mas… não passou de intenção e a inépcia local perante os poderes de Lisboa não conseguiu manter a Junta e o seu espólio… desconjuntou-se!

Para uma história das artes em Cascais
            Sim, vale a pena ler o livro e guardá-lo, porque nele se condensa muito do que foi a história cultural do concelho de Cascais nas últimas quatro décadas.
            Não excluo, é óbvio, que outras entidades também devem entrar na história das Artes aqui no concelho. Aliás, Lima de Carvalho só em 1975 foi nomeado Director da Galeria de Arte do Casino Estoril; por conseguinte, não teve directo conhecimento, por exemplo, do que se fez em Cascais no domínio das Artes na década de 60 e de que recordarei, entre outras iniciativas, a criação da Galeria JF pelo presidente da Junta de Freguesia de Cascais, o escultor Óscar Guimarães, e toda a actividade levada a cabo pela galeria da Junta de Turismo da Costa do Estoril, que teve, por exemplo, em Oskar Pinto Lobo e em Cruzeiro Seixas, dois ilustres dinamizadores, por onde regularmente passaram os melhores artistas de então. Numa época, em que os responsáveis políticos compreendiam que a Arte chama o Turismo e que, em Cascais, a existência de uma Junta de Turismo era tão importante como o pão para a boca. Outros tempos!...
                             
                                     José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 169, 11-01-2017, p. 6.
 

1 comentário:

  1. A minha neta Maria quando está de acordo e feliz com uma ideia, diz, grande boa ideia!
    Grande boa ideia este seu texto, José d'Encarnação!
    Abraço solidário do, Rui Aço

    ResponderEliminar