segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Brejeirices… ou não!

               Minha referência é, claro, a de meu pai e dos seus ditos, próprios de quem sabia condimentar com o sabor da ironia e de inofensiva maldade os instantes menos agradáveis do quotidiano. Havia sempre uma chalaça na ponta da língua ou uma rima feita no momento. Eu acho que não era dele mas de toda uma geração.
            «Não botes que eu não bebo!», por exemplo. Era a frase para quem ia vazar vinho ou aguardente no copo e… vinho ou aguardente haviam acabado, sem que o vazante disso se houvesse apercebido.
            «Aperta com ela que ela agacha-se!» – esta já tem mais que se lhe diga! Tanto podia ser com a coelha ou a galinha que se queria apanhar para ir para o tacho e estava fugidia, ou, em conversa de homens, em relação aos enleios amorosos a requerer conselho dos mais experientes…
            Um dia, cheguei a casa e disse-lhe:
            ‒ Nem calculas a quantidade de rolas que há por i nos pinhais, mesmo junto da minha casa, pai! Imensas!...
            ‒ Ora, ora! Tu vais ali à praia e lá andam muitas mais! E a voarem baixinho!...
            O maqueiro viera buscá-lo à enfermaria para uma radiografia. Ao sair, bateu com a maca na esquina da porta; ao entrar no elevador, a maca bateu na esquina da entrada; ao entrar para a Imagiologia, novo toque.
            ‒ Já não bebes mais hoje! – disse-lhe meu pai, num sorriso.
            Respirei de alívio (que houvera um AVC no dia anterior…):
            ‒ Temos homem!
            Ah! Algarvio duma figa!

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 262, 20-09-2018, p. 13.

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