quinta-feira, 3 de junho de 2021

Essoutro olhar demorado…

            Meu primo Helder Cardoso e sua mulher Leila desde há muito que sentiram o apelo do mundo inconcebível das borboletas e, também, das aves. Ainda no dia 20 ele apontava, no Facebook, uma camisola com o dístico «Nós somos amigos da Águia-imperial-ibérica!». Criaram a Rede de Estações de Borboletas Nocturnas –https://www.reborboletasn.org/ – e são capazes de passar horas na contemplação e no estudo das borboletas, cuja função ímpar no ambiente dão a conhecer. Aliás, quem há aí que possa não se extasiar perante tamanha beleza?!...
Existe no Parque Urbano de Rana (concelho de Cascais), um Borboletário, «equipamento destinado a visitas guiadas ou livres, utilizado como local de estudo das borboletas nos seus vários estados de desenvolvimento, a preservação das espécies e a educação ambiental». Outros há em Portugal, com idênticas funções didácticas.

Pela vida das borboletas me senti seduzido desde jovem. Impressionou-me deveras o filme que tive oportunidade de ver em Poitiers, no Futuroscope: organiza-se um tipo delas e voam milhares de quilómetros para demandar outra região do mundo e aí continuarem a viver e a perpetuar a sua espécie. Consultei a Wikipédia e verifiquei que se trata da borboleta-monarca (Danaus plexippus). Tem cerca de setenta milímetros de envergadura, asas laranjas com listras pretas e marcas brancas. Os seus ovos eclodem no Canadá e, ao atingirem o estado adulto em Setembro, voam cerca de 4000 km até chegarem ao México, onde passam o Inverno. Um espectáculo que me deslumbrou.

            Do livro de Jesús Simon, «A Dios por la Ciencia» (Editorial Lumen, Barcelona, 1958, p. 339-340), colhi a informação de que algumas espécies tomam tão perfeitamente a posição, as cores e, até, a figura de certas flores e vegetais com que convivem  que se confundem com eles. Assim, por exemplo, a «borboleta vermelha» apresenta cores vivas e brilhantes ao voar; mas, pousada numa planta, assume exactamente a cor e a forma de uma folha morta.

            Também anotei, na altura, que está cientificamente provado que as borboletas  conseguem comunicar umas com as outras de grandes distâncias mediante a emissão de radiações!...

             Confesso que estava longe de consagrar uma crónica às borboletas. O culpado é este novo olhar, mais demorado, que a pandemia nos trouxe, para aquilo que nos rodeia. Obriga-nos, de facto, a viver melhor! Ainda bem!

José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 800, 01-06-2021, p. 11.

 

3 comentários:

  1. Um crónica pequenina, esta, tão bonita como o tema. A borboleta é uma maravilha da Natureza, o meu insecto de estimação, até reproduzido em alfinetes de lapela. E o mimetismo que as caracteriza já me apanhou desprevenida quando, sem dar por elas, voam de perto de mim sem eu contar. Sei desse borboletário de Rana, sim. E também eu, estando longe de ler uma crónica de um arqueólogo sobre borboletas, agradeço este sopro de aragem matinal.

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  2. Bem hajas por te manteres deslumbrado pela beleza.

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  3. Raquel Henriques da Silva
    27 de junho de 2021 23:42
    Que belo texto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Maravilhoso, empático, fraterno. MUITO OBRIGADA!

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