segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Um mapa salpicado de pontos

    
          De vez em quando, voltamos a receber aquele vídeo a recordar-nos que, perante a imensidão do Universo, a Terra não passa de um pontinho e, nela, cada país mal se distingue, cada concelho inexiste e cada ser humano fica reduzido a ínfima e mui invisível partícula.
            Apesar dessa panorâmica a consciencializar-nos do nada que somos, hemos por bem considerar que, mesmo assim, minúsculos, temos vontade, temos dotes, fomos criados para cumprir no planeta Terra uma missão a não enjeitar.
            A cuidadosa elaboração da ‘carta patrimonial’ dum concelho pode lembrar-nos esse vídeo, porque é mapa polvilhado de pontinhos. Também eles não passam disso, de pontinhos. Evidenciam, contudo, algo a merecer atenção, porque representa uma herança, uma memória, um grão apenas no seio de um imenso celeiro. Sabemos, porém, que é de muitos grãos que o celeiro se enche; de muitos pontinhos desses se entretece o variegado manto do que nossos antepassados legaram. Por isso, ao conjunto desses pontinhos damos o nome de ‘património’, herança.
            Numa herança, sabe-se, conta o que tem valor material, passível de ser transacionado com proveito palpável; conta igualmente – e não o conta de somenos – o que detém o valor de memória não transacionável, porque nos pertence, a todos pertence, é-nos muito próprio e nos distingue dos demais.
            Tenho acompanhado, ao longo dos últimos meses, a actividade insana do Dr. José Carlos Santos. Não calcorreei com ele veredas, montes e vales; mas foi seu desejo que eu pudesse estar sempre na retaguarda e com ele fizesse equipa. Agradou-me a companhia – como sempre agrada, e doutro modo não poderia ser, a companhia de um antigo aluno diligente que procura pôr em prática os ensinamentos que o mestre lhe procurou inocular.
            Apressámo-nos a dar público conhecimento do que se ia encontrando, até para alertar e para colher outras informações preciosas. Não demos por mal empregado o nosso tempo; não damos por mal empregado esse calcorrear e esse contacto com eloquentes pormenores amiúde longamente ignorados.
         O resultado aí está – qual suculenta romã com que o saber e o entusiasmo e o incansável dinamismo do Dr. José Carlos Santos nos quis presentear para, aberta, a podermos saborear!

    Publicado em SANTOS (José Carlos), Carta Patrimonial do Concelho de Armamar, C. M. de Armamar, 2024, p. 11-12.

                                         José d’Encarnação

 

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