Acabo de me aperceber que estou a
usar, com bastante frequência, a exclamação «Maravilha!», em resposta a
eloquente mensagem recebida que particularmente me agradou. E isso me leva a
reflectir sobre a capacidade de nos maravilharmos, hoje cada vez mais embotada,
porque tudo nos parece natural.
É natural o melro querer fazer o
ninho naquele ramo do pinheiro.
É
natural os pardais virem, pipilando, aninhar-se nos buracos dos tijolos
decorativos da minha varanda, mal o Sol começa a descer, e deles saírem, lestos,
assim que alvorece.
É natural o jarro ter uma enorme corola branca e, dentro dela, bem visível, o sedutor filete amarelo, num apetite para as abelhas e outros insectos que, desta forma, alegremente também contribuem para a polinização.
É
natural, é natural…
E pelo ‘natural’ nos ficamos, sem
pensar na necessidade de efectivo retorno à capacidade de nos maravilharmos e
de, pela maravilha, contagiarmos as nossas crianças.
O psiquiatra Daniel Sampaio deixou
esta frase no seu livro «Covid 19 – Relato de um Sobrevivente»:
«Esta simbiose da realidade com a imaginação, se não fora trágica nas presentes circunstâncias, pelo que de situação de delírio implicava, seria verdadeiramente sublime».
Sublime seria, advoga Daniel Sampaio, haver no dia a dia estreita simbiose entre a realidade e a imaginação.
À
imaginação, à capacidade de sonhar, eu ousaria acrescentar agora à palavra
‘realidade’ uma terceira: a capacidade de melhor a apreciar, maravilhando-nos
com tanto de espantoso há à nossa volta.
José d’Encarnação
Publicado no jornal Renascimento (Mangualde), nº 877, 20-04-2025, p. 10.
"...la vita è sogno! " Bellissime suggestioni. Eugenia Serafini
ResponderEliminarMaria De Jesus Brito
ResponderEliminarPois, de facto, a natureza é mesmo uma maravilha. E é-nos oferecida, gratuitamente, a cada dia. Nós é que achamos tudo tão natural que não lhe damos a devida atenção e, por isso, não somos capazes de nos maravilhar.
Quando, por alguma razão, deixamos de poder desfrutar dessas pequenas maravilhas é que as valorizamos.
É pena!
De Eugenia Serafini e Nicolò:
ResponderEliminarChe bella notascomentarios! e dunque meravigliamoci sempre di ciò che non ci aspettavamo di vedere o sentire e corriamo dietro alle nuvole e alla natura che sempre abbonda di sensazioni MERAVIGLIOSEEEE!
Gosto muito deste texto que fala de Poesia, outra que não a mais conhecida. Curiosamente convivo com muita gente que tem a capacidade de se maravilhar.
ResponderEliminarDigo curiosamente, porque a tendência ´são passos apressados dos mais velhos, ou a cabeça inclinada para os ecrãs de telemóvel nas mãos dos mais novos.
Agrada-me fazer parte de um clube a que pertenço desde criança, quando perguntava à vizinha da minha avó, que tinha canteiros só de flores, que espécie era aquela, o que diziam os gatos à noite num canto do quintal.
À minha avó não perguntava assim tanto. Ela estava tão cansada de mim que dizia à minha mãe: desculpa, mas já não a posso ouvir.
E eu lá ia para minha casa sonhar com a conversa dos gatos, ou com o casal de rolas que o Sr. Inácio, outro vizinho, tinha encontrado na quinta a que chamava fazenda.
Maravilhar sim. Já acordei ao som dos melros que desde madrugada estão em conversa amena, sem ouvirem sons de outros animais.
E posso dizer que já me levantei a essa hora para tirar um café que me soube melhor do que qualquer outro, espreitando os ramos onde se aninhavam sem que eu os visse.
Só ouvia, mas como não domino a mesma linguagem, lá me servi da imaginação.
Pois, Helena, essa é que é a maravilhosa música, a natural, aquela que, por ser natural, já não nos obriga a parar a fim de melhor apreciar cambiantes de som, luz e cor. Estamos em sintonia. Bem hajas!
ResponderEliminarDe facto há um mundo de maravilhas de coisas simples. M ais importante, porém,
ResponderEliminara capacidade de se deixar maravilhar.
ResponderEliminarDe: marizebrito
28 de abril de 2025 11:13
Linda mensagem!
Eu já a tinha lido e apreciado no Facebook!
Como é bom ainda termos a capacidade de nos maravilharmos com os "pequenos" milagres do dia a dia!
De : Elisa Silva
ResponderEliminar26/04/25 22:47
Também eu me maravilhei, querido amigo José, com este texto!!
Só apetece conjugar o verbo maravilhar e o nome comum maravilha!!
Gostei, apreciei muito muito!!
De: Julia Neves
ResponderEliminar26 de abril de 2025 18:45
Maravilhei-me mesmo.
Obrigada pela partilha.