– Sacoleja-me
isso bem, môce!
Era uma
daquelas embalagens de sumos concentrados, com tendência a deixar no fundo uma boa porção do sumo e é
preciso sacolejar bem para que se beba com a mistura adequada.
«Sacolejar»
não é, ao contrário do que eu pensava, um termo algarvio, embora, na realidade,
eu pense que é, fundamentalmente, nessa zona que ele é utilizado.
– Então a
viagem correu bem?
– Nada disso,
amigo! O avião sacolejou muito desta vez. Sacolejou que eu sei lá, ali ao
sobrevoar os Alpes. Até um bebé que ia a bordo desatou num choro pegado e o
senhor do banco ao lado deu-me a impressão que, mui discretamente, puxou de um
terço e deu em desfiar ave-marias… Tudo aquilo tremia, santo Deus!
Dizem os dicionários que ‘sacolejar’ vem de ‘sacola’,
que é como quem diz: a criançada vem da escola, de sacola na mão e aquilo anda
tudo dum lado para o outro, num bailado irrequieto.
Não estou a
ver lá isso muito bem: que a sacola que nós levávamos habitualmente à escola
andasse assim de um lado para outro; mesmo quando nós corríamos, tendo-a a
tiracolo – aliás, punha-se a tiracolo justamente para que não bandeasse.
Sacolejar usa-se para indicar que os recipientes
que contêm líquidos susceptíveis de criar depósito, se misturem convenientemente.
É preciso agitá-los com alguma energia, quando há aquela indicação «agitar
antes de usar». «Agitar» é termo suave, de deferência; sacolejar é mesmo à
bruta, sacoleja-me isso bem, môce!
O uso típico algarvio vai no sentido concreto de
agitar um líquido para bem ficar misturado na sua composição. Mas, como se viu,
o avião pode sacolejar, o comboio sacoleja, o carro de bestas e os outros bem sacolejam
nas estradas em mau estado… E até nós cada vez mais sacolejamos com o piso cada
vez mais estragado por onde nos obrigam a marchar!...
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 342, 20-05-2025, p. 13.
Como sempre, há quem procure o português vernáculo para ampliar a nossa sabedoria antiga! Obrigada Amigo.
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