Deixou-nos o Fernando da boa disposição permanente
Recordo como se fora ontem. Nos bailes da Sociedade de Instrução Familiar da Torre, nos anos 50, o seu trombone de varas valia por uma orquestra inteira, porque o seu tocador a todos contagiava. Para mim, adolescente a ensaiar, então, os primeiros passos na arte do saboroso convívio entre companhias de ambos os sexos, essas noites constituíam, na verdade, a «instrução familiar» para que a colectividade fora criada, tal como preconizavam os ditames do Estado Novo.
Fernando «Lampião» (uma alcunha de que não gostava, mas pela qual todos o conheciam) era a alma da festa. Incansável! Ali, nos piqueniques, nas excursões, em tudo o que era festa a pedir pezinho de dança, pois então! E a mim causava-me espécie como é que, doseando o comprimento da vara, num constante e, por vezes, frenético vaivém, havia perfeitamente o sítio exacto de cada nota. E isso foi ensinando, vida afora, a quantos tivessem vontade de com ele aprender.
Admirava-o na altura, na sua contagiante alegria, como o admirava nos últimos tempos, no ginásio, onde seguia as sessões de hidroginástica, ficando por lá muito tempo depois, sentado a uma mesa do café, a fazer passatempos, a fim de adestrar a mente.
Faleceu Fernando Fernandes Bernardes, cascalense de gema, no passado dia 16, pouco dias depois de ter completado (a 1 de Janeiro) 85 anos de idade. Uma vida de trabalho, sim, nas oficinas da Câmara, mas sempre bem doseada pela boa disposição, pela alegria de viver, por um espírito livre de peias!
À viúva, Idalina, a seu irmão (também ele músico muito popular), a toda a família e, sobretudo, à sua filha Luísa (que foi professora residente na Escola de Birre) – o meu abraço de mui sentidas condolências. Com Fernando Bernardes desaparece mais um ícone da minha infância e juventude!
Incompetências e impunidade
– Desculpe, mas aqui o sistema diz que o seu seguro não cobre a consulta de Medicina Dentária.
– Como não cobre? Foi uma das especialidades que fiz questão em ter!
– Acredito, mas a informação que está aqui…
– Desculpe! E só agora, depois da consulta feita, é que me diz? Não o deveria ter visto antes?
– Tem razão. Devia ter visto. Parti, porém, do princípio de que estava tudo certo.
– E está! Isso lhe garanto eu! Diga-me para onde devo ligar.
E o senhor ligou, pelo seu telemóvel. Falou, barafustou, declinou identificação e números… Bem quinze minutos esteve nisto. E quatro doentes mais aguardavam o desfecho para poderem ser atendidos, porque o «sistema» estava aberto e não podia admitir outros dados... Espera-se, espera-se… O senhor explicava. Do lado de lá (supúnhamos) retorquiam-lhe. Finalmente, o caso teve solução: haviam-se enganado num dígito!... Mera distracção, portanto. De quem, se calhar, no momento da inserção estivera a pensar que, daí a dois meses, iria engrossar o rol de desempregados, inexoravelmente... Que culpa tinha ele de estar assim tenso e distraído? E seis pessoas viram, assim, nervosas, desperdiçados quinze minutos das suas vidas!... Distraíra-se o cidadão, pronto!...
Incompetências e impunidade - 2
Aproximava-se o dia do pagamento do imposto de circulação e o Vítor, que reside em Cascais e é muito certinho nas contas, foi à página das Finanças para recolher o código de pagamento. Qual não é, porém, o seu espanto quando verifica não constar lá a sua viatura! Que faz, que não faz, espera dois dias, nada!... Dirige-se à Repartição de Finanças mais próxima. Realmente, é estranho, dizem-lhe, tanto mais que foi feita a inspecção há pouco, não é verdade? O melhor é ir à Loja do Cidadão, nas Laranjeiras, onde é capaz de haver menor afluência e possa resolver isso mais rápido. Foi. Umas 60 pessoas à frente. Duas horas de espera, um dia de trabalho já perdido. Nada feito aí, nada constava. Tinha de ir ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, em Lisboa. Mais umas dezenas de pessoas à frente. Pelas16 horas, veio a saber que o seu carro fora abatido em Faro; precisava, pois, de esclarecer o assunto na Direcção Regional de Mobilidade e Transportes do Algarve.
Depois de inúmeras tentativas telefónicas, lá conseguiu ser atendido por uma solícita funcionária da Direcção Regional. Que foi, que não foi… Cá está: trocaram uma letra da matrícula! O carro abatido tinha os mesmos dígitos, apenas as letras na ordem inversa. Ficou o caso resolvido!
Resolvido, à custa de enorme tensão psicológica, de uma despesa de que ninguém é responsável, a não ser a incompetência! Quem é que dela nos vai livrar doravante, dado que estão a sair às catadupas das repartições públicas aqueles que sabiam a missa toda e não apenas o intróito? Deus nos livre!
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 298, 25-01-2012, p. 4].
domingo, 29 de janeiro de 2012
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