sábado, 16 de março de 2013

A catástrofe, o gerador e o transístor

            Está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=QBN5eHAFDtg a reprodução do anúncio mais sensacional que houve ao telemóvel. Da Telecel, em 1995: o pastor, em pleno campo, a responder «Tou chim!» e, voltando-se para as ovelhas estupefactas, «É pra mim!».
            Foi o telemóvel, sem dúvida, uma invenção extraordinária, de tal modo que hoje podemos ir para todo o sítio sem isto ou sem aquilo, mas sem telemóvel é muito difícil que vamos.
            No dia 22 de Fevereiro, a notícia em discussão foi o colapso do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) aquando da tempestade que, semanas antes, fustigara o País de Norte a Sul. Estive atento à discussão e nunca ouvi ninguém falar em transístor nem em rádios locais.
            É que, se outra revolução houve do maior interesse foi a do transístor na década de 60. Podia o pastor ouvir rádio o dia inteiro, enquanto pastoreava o rebanho e assim matava a solidão. Em caso, pois, de cataclismo, o transístor pode ser um excelente meio de ligação entre as pessoas, porque, faltando a electricidade, as pessoas ficam desgarradas do mundo. Disso se queixaram no vale do Mondego e na região de Leiria: «Não temos telefone nem televisão, nada, não sabemos se há indicações para fazer isto ou aquilo». Na verdade, também as redes de telemóveis entraram em colapso: o telemóvel é excelente, mas precisa que o retransmissor funcione e que haja rede.
            E isso faz-me recordar a reunião que a Protecção Civil de um concelho teve, aqui há largos anos, com as entidades passíveis de entrar em rede, em caso de catástrofe. O representante da rádio local explicou que era urgente dispor de um gerador, justamente para poder transmitir as informações necessárias. Foi alvo até de alguma chacota: «Se quer gerador, compre-o!». Não perceberam o alcance da medida, que interessava mais à Protecção Civil que à estação de rádio em si. E o director da estação meteu a viola no saco.
            Pergunto: já se lembraram de lembrar que, além da pilha, da vela e dos fósforos ou isqueiro, há que ter sempre à mão um transístor sintonizado na rádio local? Já se lembraram que a rádio local precisa de ter um gerador próprio, para garantir as comunicações quando o SIRESP voltar a falhar?

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 612, 15-03-2013, p. 10.

 

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