terça-feira, 2 de junho de 2015

Saborear o momento

             Não é a primeira vez que sinto a necessidade de abordar este tema; contudo, ao procurar na pasta o que aguarda ‘tratamento’, saltaram-me duas singelas pastinhas a reclamar atenção.
            Ando ‘preocupado’, confesso, ao ver que também eu, com frequência, não acabo as frases que inicio, numa ânsia (parece!) de tudo querer abarcar num ápice, como que sobrevoando os momentos sem deles realmente me aperceber.
            Vinha na primeira pastinha a carta de um amigo, de que há meses nada sabia. Morrera-nos, de repente, um dinâmico colega das lides da nossa ciência epigráfica; eu supusera, desde logo, que parte do trabalho dele recaíra agora sobre o Joaquim, mas… a carta dele foi inesperado murro no estômago:
            «[…] Lo que pasa es que era Pepo quien se encargaba de gestionar el día a día de Hispania Epigraphica on line y, desde que murió, eso revirtió sobre mí, no precisamente en el mejor momento, porque han añadido a mis visitas quincenales al Hospital las pruebas para realizar un trasplante de médula ósea, que es lo que me ha tenido ocupado desde mediados de Enero».
            A mensagem é de 15 de Fevereiro de 2014. Felizmente, o transplante decorreu com a normalidade possível e Joaquim, paulatinamente, está a voltar à actividade.
            A segunda pastinha traz a conhecida história de ‘Joshua Bell e o metro’ (assim mesmo, de imediato acessível na Internet). Por iniciativa do jornal Washington Post, com o objectivo de introduzir um debate sobre «valor, contexto e arte», o célebre violinista Joshua Bell tocou, ao começo da manhã de 8 de Abril de 2007, numa estação de metro de Nova Iorque, no seu stradivarius de 1713, avaliado em mais de três milhões de dólares. Aliás, exibira-se, dias antes, no Symphony Hall de Boston, uma das melhores salas de concertos do mundo, num espectáculo onde os melhores lugares custavam… mil dólares! Ali, na manhã apressada da estação do metro, a gente nem lhe deu atenção e, ao fim de 45 minutos, apenas arrecadara… 32 dólares e 17 centavos! «Bell, no metro», comenta-se no final da história, «era uma obra de arte sem moldura».
            Há, pois, que emoldurar os nossos momentos. Todos!

                              José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 663, 01-06-2015, p. 16.

4 comentários:

  1. Qué quieres que diga, sino Carpe diem! y por tenerme presente en los momento difíciles!

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  2. Diálogo de sabios...sólo escuchar.

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  3. Teresa Silva:
    Carpe diem! Esquecemo-nos muitas vezes disso numa aparente azáfama sem sentido... Vamos apurar os ouvidos aos virtuosismos da vida! Beijinhos de Coimbra Professor!

    Armando Redentor:
    A propósito, adiciono uma "pastinha" com a voz da Mariza. A letra é do Miguel Gameiro: https://www.youtube.com/watch?v=9kmwY1Z3YNY. Decerto conhece, mas sabe sempre bem ouvir... Anotei!

    Joaquín L. Gómez-Pantoja: Fuera del carpe diem, nada supera "I did my way" del gran Frankie: https://www.youtube.com/watch?v=YXAdJOk_30k
    Qué puedo decir, salvo que me he doctorado en disfrutar no el día sino el minuto? Gracias a José y José-Vidal Madruga.

    O meu comentário:
    Grato a quantos (um grande abraço, meu caro Joaquín L. Gómez-Pantoja!) tiveram a gentileza de comentar - e de ler, mesmo sem comentar! - este apontamento! Vamos todos - como sugere Joaquín - procurar dizer com toda a consciência, ao final do dia: 'Yes, today I did my way!». Ou, parafraseando o imortal Machado: «Sim, também hoje, al caminar hizo camino!».

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  4. De: Regina Anacleto
    quarta-feira, 3 de Junho de 2015 16:25

    Vi, no facebook, a chamada de atenção para o seu escrito. E fui ler (como faço muitas vezes). Pedia uma opinião. Não quis deixar de lhe dizer que também eu sinto a necessidade de viver e de valorizar cada momento que passa. É um paradoxo: por um lado é mais um momento que se vive, por o outro é menos um com que contamos no nosso devir. Mas pensar pela positiva dá alento e leva-nos a ser felizes tanto quanto a nossa personalidade e a nossa maneira de viver o permite. Ser feliz é subjetivo.
    O primeiro caso que refere, compreendo-o mais do que bem. Também vivi (e vivo) algo semelhante. O segundo, o do violinista Joshua Bell, já o conhecia. Tinha passado pelo meu computador há já bastante tempo. Duas coisas tão diferentes e que, contudo, nos conduzem a um relativismo tantas vezes não aceite e ao lado do qual se pretende passar sem parar para refletir.
    Desculpe este meu filosofar barato, mas foi a reflexão que o seu belo (como sempre) escrito me desencadeou.
    Um abraço muito amigo
    Regina

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