segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Apodrecem as traves e o telhado cai

             Para explicar por que jazem subterrâneos os vestígios arqueológicos, uso amiúde uma comparação: abandonada uma casa, as traves que sustentam as telhas vão apodrecendo, acabam por cair, entra terra, entram sementes, as ervas dão em crescer e… mais década menos década ali se mostra uma ruína sem préstimo.
            E um palacete? Não há meio de se lhe evitar a ruína? Sim, se os herdeiros se entenderem, se continuarem a dar-lhe préstimo, como casa-memória dos ancestrais ou, sobretudo, se um deles for suficientemente abastado e louco para concretizar rendível plano de utilização.
            Já viste, ali em pleno coração da vila? O palacete foi dado a uma instituição de benemerência. Há anos. E assim está. Abandonado.
            Abandonado não será, porventura, o termo apropriado, porque os responsáveis pela instituição bem darão voltas à cabeça para exorcizar pesadelos. Mas como? Ele é preciso um objectivo; ele é preciso um projecto viável e susceptível de se candidatar a apoio das entidades competentes!... E onde vai buscar-se a verba para o arranque do processo?
            Mais fácil será a recuperação dos casais que por essas terras se vão transformando em ruína. O PRID (Programa para Recuperação de Imóveis em Degradação), criado pelo decreto-lei nº 449/83, de 26 de Dezembro, ainda se manterá activo? É que não bastará a iniciativa privada, até porque a vivificação da paisagem indicia um ar sadio, acolhedor, «é tão bom viver aqui!»…
            Urge, pois, uma reflexão conjunta, um dinamismo comunitário – para que também alfarrobeiras, figueiras e amendoeiras se sintam mais acompanhadas!

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz nº 226, 20-09-2015, p. 11.

            Nota: Agradeço a Vítor Barros a gentileza de ceder a fotografia. Explica-me: «Situa-se na Fonte da Murta mesmo em frente à casa da minha mãe. Viu-me crescer e brinquei muito com as suas paredes que me serviam de baliza para os meus treinos futebolísticos. Outrora, e como era normal no campo, serviu também de casa de banho.»

 

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