segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Uma doação ainda hoje intrigante!

            Quando, em Janeiro de 2011, iniciei a minha colaboração – até agora (privilégio meu!) ininterrupta – no Renascimento, a opção temática inclinou-se para o património cultural mangualdense e, de modo mais específico, para o que os Romanos por aqui deixaram, há dois mil anos.
            Outras sendas, porém, se percorreram, ao longo destes quase cinco anos, porque a crónica se foi adaptando às circunstâncias temporais. Ocorre-me, hoje, voltar aos Romanos, porque, entre os «assuntos pendentes» estava, à espera de comentário, uma placa com inscrição romana, datável do século I da nossa era, segundo a qual um senhor, Gaio Caieliano Modesto de seu nome, terá oferecido aos castelãos Araocelenses o monumento em que a placa foi aplicada.
            O Doutor João Luís da Inês Vaz – e esta poderá ser mais uma forma de homenagear a sua memória – incluiu o seu estudo na tese de doutoramento A Civitas de Viseu – Espaço e Sociedade (vol. I, inscrição nº 83, p. 283-285), obra editada, em 1997, pela Comissão de Coordenação da Região Centro. A placa fora dada a conhecer por Moreira de Figueiredo, nos primórdios da década de 50 do século XX, e guarda-se no espaço que se chamou Museu da Assembleia Distrital de Viseu.
            Três aspectos têm suscitado a atenção dos investigadores:
            1. Os linguistas interrogam-se sobre esse estranho e único nome, que ocupa o lugar de identificativo de família: Caielianus, em latim. É fora do comum, passível de relacionar-se com o linguajar dos indígenas.
            2. Onde ficaria esse castellum? Num alto, decerto, por mor da defesa. O Doutor João Vaz diz que era no monte da Senhora do Castelo, onde se detectaram as ruínas de um castro que os Romanos ocuparam.
            3. E que monumento poderia ter sido esse, oferecido aos habitantes? Edifício público, claro, o que constitui mais uma prova evidente da importância que a região deteve no tempo dos Romanos!
            Que o leitor me perdoe esta incursão histórica por eras tão remotas! Mas não é consolador saber que investigadores nacionais e estrangeiros amiúde, a esse propósito, falam de Mangualde?

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 672, 01-11-2015, p. 10.

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