sábado, 23 de janeiro de 2016

Ourique – O Lugar Controverso

            O Professor Jorge de Alarcão acaba de publicar um ensaio de 80 páginas (Livraria Figueirinhas – Porto) intitulado Ourique – O Lugar Controverso.
            Começa por salientar que a batalha de Ourique constitui «um dos pontos mais incertos e falíveis da História de Portugal», não no que concerne à (naturalmente forjada) lenda do aparecimento de Cristo a el-rei Afonso mas a três outros pontos: o local do recontro, o significado da expressão «cinco reis mouros» e, também, a dimensão dos exércitos que terão estado frente a frente.
            Analisa o Autor, um a um, os testemunhos que se têm aduzido para resolver as questões em apreço.
            Assim, no que se refere ao sítio onde a batalha se travou contesta a sua localização no Baixo Alentejo e sugere como hipótese mais viável a região de Leiria, podendo mesmo imaginar-se essa batalha como «um episódio da reconquista de Leiria» (p. 60). Os argumentos aduzidos, ainda que não ‘decisivos’, como o próprio Autor concede, devem doravante ser tidos em consideração, ou seja, «a hipótese de a batalha de Ourique se ter travado perto de Leiria é pelo menos tão verosímil quanto a de o prélio ter tido lugar no Baixo Alentejo. Talvez seja mesmo mais verosímil» (p. 64).
            A relevância dada à vitória poderá ter justificação no facto de, assim, Coimbra ter ficado mais imune aos ataques mouros e, daí, a assunção, por parte de Afonso, do título de rei, regressado a Coimbra e ovacionado após a refrega. É natural, no entanto, que a população não tivesse tido de imediato uma percepção exacta do significado futuro dessa vitória, até porque, por outro lado, no quatro da historiografia alcobacense, seria «bem mais gloriosa para o rei seu protector» uma vitória obtida lá mais para sul, em terras infiéis (p. 67).
            Este ensaio vale, pois, de modo especial, pela reanálise da documentação em presença, em que se lança mão de todos os dados ora disponíveis, inclusive – é um exemplo – o dos caminhos que, na época, os exércitos poderiam ter palmilhado, com base no que se sabe, mormente da rede viária medieval, decalcada, em muitos locais, da rede viária traçada pelos Romanos. Traz, no final, exaustiva bibliografia.
            «Tantos argumentos que apresentámos não conduzem a segura conclusão mas apenas reforçam dúvidas: ainda está por vir uma definitiva prova que nos permita uma certeza quanto ao local da batalha», escreve Jorge de Alarcão, a concluir. Contudo, o facto de se haver disponibilizado a rever, densamente, a documentação e a complementá-la com novos dados merece o maior encómio.             
                                                                                              José d’Encarnação

Publicado em archport, a 22-01-2016:

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