quinta-feira, 2 de junho de 2016

24 horas em SO

             De vez em quando, uma reportagem: impressionantes imagens de macas em corredores, gemidos em fundo, promessas de revisão dos procedimentos, rostos de familiares em aflição
            Confesso que me é impossível garantir se tudo isso se refere a situações extremas ou recorrentes em SO, o Serviço de Observação dos estabelecimentos hospitalares. Não garanto. Posso garantir, porém, depois de ter estado vinte e quatro horas em SO no Hospital de Cascais, que a minha opinião mudou por completo:
            1º) Vi o que era por dentro um SO;
            2º) Senti ao vivo o que era um verdadeiro trabalho de equipa.
E lembrei-me de algo bem diferente a que há tempos assistira:
‒ Olhe, desculpe lá! Ficou uma toalha suja na casa-de-banho.
‒ Está bem, vou já pegar!... Ah! Essa é das auxiliares!
Abrira a porta, vira que era uma toalha de banho fora do sítio, mas… não era das suas funções retirá-la! Era função das auxiliares!...
Exactamente o contrário eu tive ocasião de sentir no SO: um perfeito trabalho de equipa, concretizado a cada momento, de boa cara, com competência e, até, amiúde, a necessária pitada de humor.
Compreende-se: o doente chega ali – com ou sem diagnóstico rigoroso – e o que é imprescindível é a monitorização permanente, a atenção constante de todos: médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem a auxiliares de limpeza. Todos! E o exigente cuidado na higiene? Disseram-me que já havia um estudo: por cada doente, diariamente, em média, nove pares de luvas! Eu acho que será até mais, porque a cada instante eu via pegar num para o usar numa tarefa e… zás! – contentor com ele! E o constante esvaziar dos contentores?
Fiquei, pois, mui agradavelmente surpreendido: ainda há quem saiba tratar os outros como pessoas!
E sem dúvida o que descrevi será o clima normal em todos os hospitais do País!
Parabéns!
                                                    José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 686, 01-06-2016, p. 12.

1 comentário:

  1. Sr doutor, tenho o prazer de ser amiga pessoal de muitos desses profissionais, médicos e enfermeiros. Conheço as suas histórias de bastidores, que não são nada fáceis, porque é um trabalho extenuante física e psiquicamente.A taxa de infecção hospitalar é uma realidade, e o nosso hospital conseguiu diminui-la exatamente devido a procedimentos escritos,
    revistos, e reescritos mil vezes.
    Todos os profissionais são avaliados periodicamente. Não há um diretor clínico ou chefe de equipa de enfermagem e serviços farmacêuticos sem ter demonstrado com currículo e conhecimento, e anos de profissão, que é merecedor de tal cargo.
    Mas a verdade é que cumprir tantas regras custa imenso dinheiro. As esponjas impregnadas de antisséptico para o pré operatório, os milhares de luvas, o programa informático de excelência. São milhares de euros. A qualidade e excelência pagam-se bem, e obrigam a um esforço redobrado dos trabalhadores.
    E mesmo assim por vezes ocorrem problemas.
    Tb conheço bem o SO porque infelizmente o meu marido já me pregou uns valentes sustos, e esteve lá. São fora de série. E tb conheço bem os cuidados intensivos na pediatria. Destes então, nem tenho palavras.
    As suas melhoras.

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