quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A cidade romana de Tongobriga em exposição permanente

            Vale a pena visitar a exposição permanente que visa complementar uma visita às ruínas da cidade romana de Tongobriga (Freixo, Marco de Canaveses).
            Dir-se-á, para já, que o catálogo, coordenado pelo actual responsável pelo sítio, Dr. António Manuel Lima, merece demorada leitura e constitui, aliás, um deleite para os olhos também.
            Sob o mote Mudar de Vida, escalonam-se os capítulos em que se retratam as fases da vida humana: nascer (o princípio da vida), sobreviver (assegurar a vida), viver (organizar a vida), desfrutar (exaltar a vida), orar (pensar a vida), morrer (para além da vida)… António Manuel S. P. Silva assina o capítulo que foca a transição - «do galaico ao romano» - e os capítulos seguintes, a introduzir cada conjunto exposto, são da responsabilidade de António Manuel Lima, Virgílio Hipólito Correia, Rui Morais, Maria Pilar Reis, José d’Encarnação e Filipa Cortesão Silva, respectivamente.
            Mui excelente apresentação gráfica, nomeadamente as ilustrações, de rara beleza. Logo na capa, um medalhão monetário – um aureus do imperador Galieno; depois, fíbulas anulares de bronze, decoradas; a pedra de anel de Valéria, que serviu de sinete também; outra pedra de anel, de cornalina, ostentando Apolo com sua cítara… Enfim, um regalo!
            160 páginas em bom papel couché. Concepção e design editorial de Rui Mendonça, com a colaboração de Noémia Guarda. Edição da Direcção Regional de Cultura do Norte, apoiada nomeadamente pela Câmara Municipal de Marco de Canaveses. ISBN: 978-989-20-6864-0.
            Transcreva-se, pelo seu significado como «guião» que presidiu à elaboração deste roteiro, o texto da pág. 5:
            «Para uns, o romano seria uma fonte de admiração. Transformar-se num deles seria uma legítima aspiração pessoal. Para outros, uma inaceitável negação da sua identidade. Para outros ainda, apenas uma estranha forma de vida. Para todos, em duas ou três gerações, seria uma realidade. E, menos de um século, todas as resistências e inércias seriam vencidas, E, do nascimento à morte, todas as etapas da vida estariam impregnadas de romanidade».
            Um entrecruzar de culturas que, hoje, mercê do instantâneo contacto que a todo o momento temos a nível global, muito melhor logramos compreender do que o indígena peninsular postado perante novas ideologias, novos trajares, novas formas de encarar a existência.
 
                                                                               José d’Encarnação
 
                   Fotos retiradas, com a devida vénia, do catálogo em apreço.
Pedra de anel: Apolo com sua cítara
A pedra de anel de Valeria



              
           

A inscrição da pedra de anel, após impressão

3 comentários:

  1. Aurora Martins Madaleno25 de agosto de 2016 às 20:51

    Ninguém pode roubar o anel a Valéria.

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  2. Caro prof.
    Onde posso encontrar o "Mudar de vida"? os capítulos prometem ser interessantes. Estou muito curioso no que concerne à argumentação do(s) autores) dos capítulos Orar (pensar a vida) e Morrer (para além da vida). É que, para mim, Orar tem tudo a ver com a morte (o medo dela) e nada com a vida. Pensar a vida é mais uma questão filosófica (ontológica) do que religiosa. Os homens inventaram os deuses e suplicam-lhes (oram) porque são o único animal mortal, o único que sabe (tem consciência) que morrerá e tem medo que isso seja voltar ao não-ser, ao tempo em que não vivia, ao tempo da ausência de memória. Os outros animais são imortais porque não têm consciência da morte. Por isso o homem tem religiões e deuses e os outros animais são arreligiosos (muito embora um amigo meu assegure que não, que conhece um cão que está todos os dias à porta de uma Igreja). Orar não é pois pensar a vida, mas preparar o tempo sem memória que aí vem, o não-ser outra vez. Ao orar já estamos a morrer em vida. Em suma, somos um ser para a morte, como dizia Martin Heidegger, o único animal que toma (devia tomar)decisões em face da morte, possibilidade que põe termo a todas as possibilidades. Pensar a vida é assunto da filosofia e das ciências. Desculpe tomar o seu precioso tempo com este conjunto de orações.
    Com amizade,
    José Soares

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    1. Olá, Zé Soares! Eliminei o duplicado do comentário, porque te não aperceberas que já fora publicado. Agradeço as tuas reflexões, que são, sem dúvida, oportunas, porque nos obrigam a repensar questões pelas quais passamos no dia-a-dia sem sobre elas nos demorarmos. O capítulo orar, que tive o privilégio de redigir, foi publicado há dias aqui no blogue sob o título «pensar a vida». Quanto à possibilidade de aquisição de um exemplar do catálogo, vou dar-te, por email, o contacto do responsável pelo sítio, que o coordenou. Um abraço!

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