quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Não sei por onde escolher

            Passou tão rápida esta quinzena que não me dei conta de que havia uma crónica para escrever já e o jornal estava a fechar. Convenci-me que era só daqui a uma semana e, por conseguinte, a mensagem do senhor director foi assim como pedrada no charco do aconchego do meu burguês final de tarde.
            E dei comigo com o drama de não saber por onde escolher.
            Houvera uma polémica sobre a intenção de se fazer, em Cascais, um museu de arte urbana, para guardar pinturas que ocultam mazelas antigas, decisões que nunca mais chegam… Uma boa ideia, assim haja depois iniciativas que o mantenham vivo e, sobretudo, palestras que, de quando em vez, tentem acicatar as autoridades a debruçarem-se sobre esses prédios devolutos que a Arte – e muito bem! – procurou disfarçar.  E o pensamento voou por aí adiante…

As obras a meio
            Criou-se com pompa e circunstância um procedimento burocrático a que se deu o nome de simplex, para tudo ser mais rápido e eficaz. Rapidamente se faz uma empresa (e bem depressa também ela abre falência e deixa o pessoal a tinir). Rapidamente se faz um pedido, até porque, para isso, há mesmo lugarzinho adequado na página da entidade ou da instituição e se tem resposta automática no mesmo dia ou no dia seguinte, a garantir que se vai tratar do assunto.
            Custa-nos, todavia, ver como tanta ‘coisa’ se arrasta, porque outras prioridades surgem e não há mãos a medir ou, mais frequentemente, porque a legislação em vigor tem tantas implicâncias que uma pessoa ainda morre antes de ver a questão resolvida. Oiço amiúde: «Fui lá entregar o papel que me haviam pedido; telefonaram-me, dias depois, a dizer que faltava uma assinatura; uns dias mais adiante, novo telefonema: é que, senhor, não tem a certidão de 1957!...
A super-esquadra. Foto de José Sousa,
a 2013.03.05, no fórum
Lugares Esquecidos
            Custa ver o caso da super-esquadra por resolver; a construção em frente da estação de Cascais que não avança; as vivendas da Av. de Sintra, em Cascais, de aberturas tapadas com tijolos; as antigas instalações da Pedro Pessoa, logo ali à frente do quartel dos Bombeiros de Cascais, que são lixeira e antro; do antigo prédio ao cimo da Rua Direita, que tem arte urbana, sim, mas também azulejos a cair e paredes que os turistas teimam em fotografar…

A casa da Rua Direita.
Foto de Ruin'Arte 97
A relatividade do quotidiano
            Custa-nos ver tantas iniciativas culturais importantes, amiúde umas em cima das outras, que a gente nem sabe por onde escolher e acaba por não escolher nenhuma, como canta a Ana Bacalhau, «hoje não, porque joga o Benfica!».
            A data do evento foi escolhida, supõe-se, tendo em conta as agendas dos vários intervenientes e, também, outros calendários. Mas, hoje em dia, a gente pensa que uma data e uma hora são as ideais e logo se lhe pranta em cima um aguaceiro, uma crise política, uma decapitação, o resultado de um referendo, os putos para ir buscar à escola, a sopa para fazer, o farnel a preparar para o dia seguinte, o episódio da telenovela…
            Enfim, lá nos vamos habituando à relatividade extrema do quotidiano.

Os casos
            E vamos tendo conhecimento de «casos» e da forma expedita de os tentar resolver.
            No âmbito da permanência em Cascais, no seio da Misericórdia, da Senhora do Manto Largo, o Dr. Jorge dos Santos, juiz desembargador da Relação ora aposentado, que presidiu, de 2008 a 2012, à Comunidade Vida e Paz e preside agora às Conferências Vicentinas em Alcabideche, fez-nos uma palestra no dia 18. Disse do sr. dr. médico que é agora um sem-abrigo; do professor que tinha as coisitas num saco escondido algures e angariava uma esmola aqui, outra acolá; de outro que se abeirou dele e pediu desculpa por estar muito malcheiroso, que há muitos dias não tomava banho nem comia nada quente…
            Casos de um quotidiano que nos abalam e que dão força a instituições como a Refood, que vai ter um concerto no próximo sábado, dia 28, às 16 horas, no auditório da Boa Nova, para que possa continuar nessa labuta de passar pelos restaurantes e recolher a comida que sobra, para – com uma palavra amiga – matar a fome de quantos andam por aí.

                                                               José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 171, 25-01-2017, p. 6.
 

4 comentários:

  1. Joaquim Cardoso
    E o menino até foi muito soft.

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    1. José d'Encarnação
      Noblesse oblige! Além disso, já dei para esse peditório e a esmola não foi bem aceite. Despi o hábito de esmoler e vesti o de anacoreta.

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  2. Mário Almeida, 26/1 às 3:17
    E que boas recordações das conversas com o Dr. Jorge dos Santos e as acções que a Plataforma Global desenvolveu em parceria com ele. A mesma "casa", outros tempos, outras vontades... http://plataformaglobal.org/social

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