quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Terra, um planeta repleto de lixo e sem população

            «Se continuarmos a derrubar as florestas como temos vindo a fazer, a Terra será uma “ilha” desflorestada, sobreaquecida, poluída, repleta de lixo e sem população humana» – este o final da mensagem natalícia deste ano do Prof. Jorge Paiva da Universidade de Coimbra.
            Empenhado, há décadas, nesta campanha em prol da biodiversidade, aquele botânico todos os anos envia, pelo Natal, centenas de postais ilustrados, sempre com um tema específico. O deste ano, «floresta e sobrevivência», visa consciencializar-nos da importância fundamental que tem para a sobrevivência do género humano a criteriosa gestão da floresta.
Imagem apresentada pelo Prof. J. Paiva:
"«Stertulia africana», a que o padre João
de Loureiro chamou «Triphaca africana»
(1790), quando a herborizou em Mossuril
(Moçambique), a sul desta fotografada
em Pemba."
            Amiúde, ao analisarem-se nas Câmaras Municipais, projectos urbanísticos, raramente há quem se levante contra, quando esses projectos vão acabar, por exemplo, com uma zona de mato (já não falo de floresta). É mato, não há problema ambiental… Erro, claro, porque é nesse mato de muitas espécies vegetais rasteiras que vive uma infinidade de outros seres que, aparentemente insignificantes, exercem função primordial sobre a biodiversidade e, consequentemente, sobre a nossa qualidade de vida.
            Não é, contudo, sobre o desaparecimento dos matos propriamente ditos que Jorge Paiva ora nos alerta, mas das matas. Depois de apresentar o exemplo da extinção do povo rapanuio (os nativos da Ilha de Páscoa), devido à completa devastação da floresta original, assim como o da quase total destruição da taiga na Islândia, relembra-nos que «os seres vivos constituem a nossa fonte alimentar»; que cerca de 90% das substâncias medicinais são de origem biológica; que «praticamente tudo o que vestimos é de origem animal ou vegetal»; e que mesmo as turbinas dos geradores de electricidade carecem de ser lubrificadas por óleos de origem biológica. Recorda, finalmente, que constantemente se descobrem «novas utilidades de plantas, animais e outros seres vivos», «que ainda não estavam suficientemente estudados».
            Neste dealbar de mais um ano, o mesmo grito de alerta se mantém: importa urgentemente preservar a biodiversidade! E não se pense que isso depende dos governos: depende de cada um de nós! E – permita-se-me o apontamento – é para nós, aqui em casa, um consolo ver, durante o dia, saltitarem de ramo em ramo à cata de insectos e de sementes nas plantas e arbustos do nosso jardim, melros, rolas, pardais, fuinhos, piscos… Uma serenidade reconfortante!...

                                                         José d’Encarnação

Publicado em Renascimento [Mangualde], nº 700, 15-01-2017, p. 11.

3 comentários:

  1. Cristina Calais
    19/1 às 22:57
    Aos Professores José d'Encarnação e Jorge Paiva agradeço a partilha, tanto mais que todos os anos, na quadra natalícia, a equipa do Museu Municipal de Coruche recebe os postais do Prof. Jorge Paiva, únicos, personalizados e inigualáveis. Os seus ensinamentos sobre a importância da biodiversidade, da qual nós, seres humanos, dependemos, e o forte apelo ao respeito pela preservação do planeta, são um contributo inestimável à consciencialização de que urge passar das palavras aos atos.

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  2. Paula Ferra
    Era tão bom que TODOS percebessem!

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