Quando,
no último quartel do século XIX, começaram a publicar-se gazetas e jornais, com
sede nos principais centros urbanos, depressa compreenderam os seus mentores
que, para melhor cumprirem a sua missão de informar e, até, de dar relevo ao
«outro» país que não apenas o das grandes cidades, a figura do correspondente
constituía elemento imprescindível.
E
se as academias mantêm a categoria dos académicos correspondentes, que, mui
frequentemente, apresentam nas sessões comunicações de elevado interesse, os
jornais, mesmo os locais e regionais, parece que deixaram cair essa prática,
não obstante verificarem como foi importante, por exemplo no caso dos incêndios
deste Verão, o contributo dado aos canais televisivos pela presença, no local,
dos seus «correspondentes».
Como
chefe de redacção do Jornal da Costa do
Sol, incrementei essa prática e dispúnhamos, por isso, de informações do
interior do concelho que, doutra forma, teriam passado despercebidas e não
chegariam ao conhecimento das entidades a quem compete zelar pelo bem-estar da
população que prometeram servir.
Um
dos semanários até chegou a lançar «O Cartão do Bom Cidadão», para que o seu
detentor fosse o repórter local; mas a iniciativa não teve êxito: primeiro,
porque nem todos esses «colaboradores» se disponibilizavam a escrever, porque
não tinham «queda», como sói dizer-se, ou por medo de represálias; depois,
porque, na própria redacção, nem sempre haveria pachorra para rever um
português por vezes mal amanhado, quando a Câmara e outras entidades enviavam a
«papinha feita» e isso enchia a edição…
Outro
meio de tornar o jornal mais popular, no sentido de mais «chegado ao povo», é o
incremento da secção «Diz o leitor», onde, por medo das tais represálias (os
que estão no poder não gostam habitualmente de saber certas verdades e têm a
faca e o queijo na mão…), o leitor sempre pode solicitar à redacção que a sua
identificação seja substituída pela expressão «leitor identificado». Hoje, que
facilmente (e com identificação, aliás…) se escreve tanto nas redes sociais,
lógico pareceria que uma secção desse tipo tivesse êxito. É tentar!
Sempre
preconizei que a necrologia constitui, no jornal local, um dos meios mais
eficazes de chamar leitores, sabendo-se que ao aumento de leitores corresponde
maior aliciamento à inclusão de publicidade, pública e privada. Compreendeu-o
perfeitamente, por exemplo, o director do Noticias
de S. Braz, de S. Brás de Alportel, a quem falei no assunto, e esse é, na
actualidade, um dos seus maiores trunfos.
Saiu-me
espontaneamente a palavra «pública», que é perigosa no momento eleitoral que
atravessamos. Arrisco, porém, o que, nesse aspecto, são minhas convicções ou
melhor, os meus desejos:
1º)
Deveriam as entidades locais (nomeadamente as juntas e a Câmara) pôr de lado
ideologias partidárias e tratar de igual modo os órgãos de comunicação locais, privilegiando a inclusão neles,
paritariamente, da sua publicidade institucional ou outra.
2º)
Uma outra sugestão seria as forças políticas em presença comprometerem-se a,
pelo menos semestralmente, promoverem uma conferência de imprensa, a fim de
transmitirem a sua opinião acerca da situação político-social, as iniciativas
feitas e propostas, o que lhes parecia bem ou menos bem e era importante
corrigir. Por seu turno, os jornalistas teriam oportunidade de se fazerem eco
do que se dizia, dos boatos que corriam…
Oiço
uma voz vinda não sei donde; ou melhor, sei: dos meus «conselheiros íntimos»,
aqueles entes que sempre nos acompanham e chamam à realidade. E essa voz fez
pouco de mim:
‒
És um sonhador, menino! Cascais não é S. Brás de Alportel, um dos mui raros
concelhos em que todas as forças políticas «têm» voz audível. Esquece!
Está
bem. Vou esquecer.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais],
nº 203, 20-09-2017, p. 6.
Boa tarde, gostei de (o) ler como quase sempre. ter voz audível com este executivo só através de qualquer aplicação "apple" é assim que eles funcionam. E os excluídos tendem a sentir-se fora do tempo e do espaço que também e deles.
ResponderEliminarMaria Helena