terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Os nomes das ruas

            Recordo, com frequência, a situação de alguma desorientação que tive numa cidade espanhola. Não encontrava determinada rua no mapa. Cheguei a um café, que se situava ao lado de uma igreja, entrei e perguntei ao senhor, para mais facilmente me orientar na pesquisa, como se chamava aquela igreja. O senhor, pareceu-me dos empregados mais antigos do café, desconhecia por completo como é que a igreja se identificava.
            Também acontece que alguém, ao perguntar por uma rua, verifique que o seu interlocutor, morador do bairro, não saiba responder. É mesmo capaz de garantir que nunca em tal ouvira falar!
            Faz-me pena. Todas estas situações revelam quanto se vive apressadamente, se não tem atenção à realidade circundante e, claro, também não se tem em conta o significado último do nome dado a uma rua.
            A este propósito, permita-se-me que transcreva uma passagem do sempre benquisto livro de João Lourenço Roque, Diversões Interiores. No II volume, publicado em 2017, diz o seguinte:
            «Todas ou quase todas as aldeias da freguesia de Sarzedas passaram a ter os nomes das ruas assinalados em sugestivas placas toponímicas, facilitando a vida aos carteiros e aos turistas, ávidos de mundos perdidos, e libertando do esquecimento singelas e fundas heranças culturais. Em geral, optou-se por nomes antigos, que corriam de geração em geração» (p. 177).
            Adiante, João Lourenço Roque, depois de criticar as malfadadas repetições, sugere que as comissões de toponímia poderiam também ser «mais criativas e originais, perpetuando figuras humanas muito populares e importantes na identificação local e na memória colectiva».
Dois nomes da mesma rua
       É verdade. De um lado, afigura-se-me importante que se mantenham as tradições, as designações antigas, muitas delas até patentes nas escrituras dos imóveis; mas, por outro, não é preciso ser uma personagem ilustre ou muito ilustre a nível nacional, pois há singelas figuras locais, típicas ou beneméritas, que merecem ter o seu nome impresso numa placa toponímica.
       As designações das ruas constituem também uma forma de perpetuar a memória de quem, denodadamente, procurou trabalhar em prol do bem comum. 
                                                        José d’Encarnação
 
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 746, 15-01-2019, p. 11.

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