Nas suas «Digressões Interiores», o Doutor João Lourenço Roque assume a sua velhice – 80 anos recentemente completados – e se, aqui e além, nas suas crónicas, declara ter largado a investigação histórica em que a sua docência se alicerçava («encerrada a vida maior na universidade», escreve) certo é que – dedicado à agricultura, à pastorícia e à apanha de frutos silvestres (Digressões Interiores 4, 2025, pág. 57), considera – e bem! que são os seus livros «vozes, ecos e rastos do interior profundo». Ou seja, deixou, oficialmente, de ser professor, mas nunca esse jeito perdeu.
A docência
sempre foi encarada por ele como reflexão, ou não fora a História, como
escreveu Cícero, “mestra da vida”. Por isso, seus gritos d’alma aqui estão para
serem ouvidos, mesmo que o asfixiante turbilhão em que os governantes se movem lhes
não deixe espaço nem tempo para parar. E deviam. Todos, aliás, devíamos saber parar
e atentar, por exemplo, neste drama (cito João Lourenço Roque):
«O que
realmente me pesa e perturba são as agruras que, a cada passo, espreitam e
atingem os idosos. Sobretudo os idosos não digitalizados, Se lhes faltam mãos
amigas, estão perdidos. Basta pensar no que lhes acontece quando, na boa fé,
telefonam para algumas entidades públicas ou privadas a fim de resolverem
pequenos ou grandes problemas e dificuldades. Ficam pendurados a ouvir música e
anúncios ou sujeitam-se à ladainha de “vozes gravadas” que repetidamente os
dizem marque 1, marque 2, marque 3, marque 4… – e a mensagens escritas que os “encaminham”
para a internet através de gatafunhos digitais. Pobre de quem é velho e
analfabeto como eu!».
Que valente punhada esta, senhores!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 884, 24-11-2025, p. 24.

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