quinta-feira, 3 de março de 2011

Proximidade e vizinhança

O macabro achado, nos primeiros dias de Fevereiro, do cadáver duma idosa, falecida há nove anos, no seu apartamento da Rinchoa (Sintra), onde vivia com o seu cão – que também foi encontrado morto –, veio pôr o dedo na grave ferida de que padece o mundo actual: a solidão da velhice.
Já há alguns meses atrás, a RTP passara a reportagem «Este País não é para velhos», a abordar esse tema lancinante da quebra de laços familiares e de vizinhança.
Por incrível que pareça, há filhos que, tendo sido criados e sustentados pelos pais, os deixam viver e morrer ao abandono. Se calhar, não será tão incrível assim, quando, no dia-a-dia, vemos quem muito deve aos seus professores, tenta legislar (e legisla!) para deitar abaixo essa classe profissional. É a vida!...
O que falhou na Rinchoa? Tudo, já se disse. Houve, porém, uma falha que – até ao momento em que redijo estas linhas – não vi apresentada: falhou a Comunicação Social de proximidade!
Aquela vizinha, em vez de ir apenas ao posto da GNR e aos correios (e muito ela fez, coitada, sem que lhe dessem ouvidos e até zombassem dela!...), deveria ter posto a boca no trombone, como sói dizer-se, e bater a tudo quanto era redacção de jornal, de rádio, de televisão! E não desgrudava enquanto a notícia não saísse, enquanto a opinião pública não fosse alertada e se mexesse!
Para isso serve a rádio local, o jornal local: para cimentar comunidade, para insistir, insistir, como água em pedra dura!... De certeza que, alerta dado, duas semanas só passadas que fossem, o caso da Rinchoa não teria chegado aonde chegou.
Que a lição seja aprendida!

Publicado no quinzenário de Mangualde, Renascimento, nº 565, 01-03-2011, p. 13.

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