Gizara-se uma Europa unida, à moda
do antigo Império Romano. Na mira de evitar assimetrias, legislou-se uma
aparente uniformização, mormente no que concerne à produção, pois – queira-se
ou não! – era (e é!...) o dinheiro a alma do negócio.
Distribuíram-se, pois, subsídios a
rodos: para arrancar vinhas, para arrancar oliveiras, para não cultivar as
terras, para… plantar quivis! Ah! Mas, daí a uns tempos, vieram verbas para
plantar vinhas, arrancar quivis, plantar olivais!... O desaforo pegado,
dinheiro deitado à rua, produção por completo estagnada, que, tal como em tempo
do ouro, do Sr. D. João V, o Magnânimo, trabalhar, afinal, nem era preciso! E
incentivou-se a compra de casa; com o dinheiro de arrancar árvores (que porventura
se não arrancavam…) compraram-se jipes, televisores magníficos. E os bancos
emprestavam sem complicações de maior.
O que se passava ao nível do Povo
anónimo, passava-se – a um escalão exponencialmente maior – entre os políticos
recém-chegados: «Vou gastar uns milharezitos para renovar o mobiliário do meu
gabinete, não gosto do que o meu antecessor deixou». «Ah! E vamos mudar os
nomes dos ministérios!» – e toca a deitar para o lixo todos os impressos
anteriores; estes logótipos estão ultrapassados e vamos adoptar novos,
encomendados (por alguns milhares!) àquela empresa de marketing e imagem nossa
conhecida (sabes?)!...
Gastou-se, gastou-se... Endividou-se
o Povo e o País! Portugal e a Europa!
Crise vem duma palavra grega (quem
diria?), ‘crísê’, que, além de ‘cisão’, ‘desequilíbrio’, ‘precipício’, também
significa… discernimento! Discernimento não houve e… estava-se mesmo a ver que
o precipício se abriria; que este paradigma de ver números e não ver as
pessoas, de privilegiar o ‘ter’ ao ‘ser’ daria com os burrinhos na água na
primeira oportunidade! Era só uma questão de tempo!...
Bastava ter estudado História, disciplina que os tecnocratas desconhecem.
Agora, aqui d’el-rei! Não há trabalho (e muito menos emprego!), porque,
para aguentar o barco, se diminuem salários, se corta nas férias e nos
respectivos subsídios, se aumenta o IVA… Tudo para o ‘lucro’ imediato,
consignado nas estatísticas, mas não consignado na realidade, porque – e todos
o compreendem! – aumentando o IVA, diminui o consumo, aumenta a economia
paralela e diminuem, consequentemente, as verbas que, eufemisticamente, o
Estado proclamava que iria receber!
Como resolver?
Mudando de paradigma! Lançando ao desprezo e desmascarando as (assim
chamadas) agências de rating, fiéis correias de transmissão do capitalismo
exacerbado. Tratando os cidadãos como pessoas!
Enquanto as medidas adoptadas forem exclusivamente economicistas, o
precipício abrir-se-á cada vez mais, inelutável, e arrastará tudo e todos para
o abismo – donde outro paradigma, humanista, forçosamente terá de surgir! Em
Portugal, na Alemanha, nos EUA, no mundo!... Se as loucuras governamentais não
continuarem, ainda há tempo para retroceder; se continuarem, Fénix terá de
renascer das cinzas!
Publicado em Portugal-Post [Hamburgo], nº 51, Maio de
2012, p. 13-14
[versão portuguesa com
tradução em Alemão].
Cumprimentos.
ResponderEliminarA propósito acrescentarei, se me permite,o meu sentimento de tristeza com o que alguns ( maus )compatriotas em conluio com gente da estranja ambos com responsabilidades empresariais e não só fizeram a nós todos, aqui em Cascais.A um desses até foi dado nome de avenida no Estoril.Normal em tempos cujo deus é o dinheiro e o diabo é não o ter.Sinto asco por tal gentalha.Agrada-me saber que não sou único.Por curiosidade sr:dr: a data de sua mensagem não está algo estranha? Maio 2012 ?
Aceite um aperto de mão afectuoso.
Zé.