terça-feira, 10 de abril de 2012

Andarilhanças 41


TED Cascais

O TED é uma organização não lucrativa, iniciada nos Estados Unidos da América em 1984, dedicada ao lema "Ideias que vale a pena espalhar". Organizou, no passado dia 18 de Fevereiro, como se sabe, uma conferência em Cascais, na Casa das Histórias.
Passei por lá a meio da tarde, porque queria ouvir Margarida Ruas falar do ‘seu’ Aqueduto das Águas Livres, dado que, na verdade, também a água é uma linha que nos une. Mostrou que o aqueduto está no guiness: o fechamento da ogiva com três arcos é único no mundo, «só o sopro divino o consegue suster!»… E levou-nos a passear pelos magníficos recantos do monumento.
Antes, porém, Alberto Mateus contou da sua odisseia para fazer um empreendimento turístico em Góis, onde enterrou 500 000 euros e dois anos e meio de vida, obteve 3,75 de mérito no projecto (numa escala de 1 a 5), para depois lhe dizerem que não era aprovável por uma questão de somenos: uma média de 47,5 pessoas em vez de 42,5 (se bem compreendi). E pensou então: «Fui ao casino e derreti numa noite 500 000 euros!». Como não é político e não pertence a nenhum lobby, declarou, vai tentar implantar o projecto noutro local. Deu uma lição de tenacidade!
Depois de Margarida Ruas, um jovem dinâmico trouxe outra lição: Stop complaining! Vamos parar de nos queixar e… deitemos mãos à obra!
O auditório estava repleto (mormente de juventude) e acho, pelo que pude ver nessas escassas duas horas, que deve ter merecido a pena!

Boca do Inferno nº10
Dou a mão à palmatória. A Boca do Inferno, revista de cultura e pensamento da Câmara Municipal de Cascais, teve, em Maio de 2005, um nº 10, dirigido por Ana Clara Justino e coordenado por Júlio Conrado, de resto o coordenador da quase totalidade dos volumes publicados.
Herberto Hélder e Carlos de Oliveira foram os escritores que aí estiveram em foco. Dentre os textos referentes à história local, refira-se o que João Miguel Henriques preparou sobre a relação entre turismo e nacionalismo, com especial incidência no que ocorreu na Cascais de 1906 a 1913 (época da Sociedade Propaganda de Portugal e suas congéneres, entre as quais se conta a nossa Propaganda de Cascais) e o que Cristina Pacheco redigiu sobre «a presença de estrangeiros e refugiados no concelho de Cascais durante a Segunda Guerra Mundial».
As minhas desculpas pelo involuntário engano, pois que, na passada edição, eu considerara a revista terminada no nº 9.

Dragoeiros
Regozijo-me com a iniciativa de se identificar a mata de dragoeiros existentes no Parque Palmela, «que acaba de ser classificado como de interesse nacional pela Autoridade Nacional Florestal (Aviso n.º 5/2012)» e que passou, por tal motivo, a dispor, desde o dia 21, de «um Bilhete de Identidade onde constam dados como as características da espécie, motivos de classificação, entre outros.»
Recorde-se que a Associação de Moradores da Quinta da Carreira escolheu o dragoeiro como seu logótipo (na quinta existe um vetusto exemplar) e que também na cerca do Hospital de Santana há um outro, bem vistoso.
Trata-se de uma espécie típica da zona atlântica, que corre risco de extinção, se não for devidamente acautelada.
Congratulo-me, pelo que isso significa de interesse pelo património vegetal endógeno. E sempre me alegra ver como está cuidada a gigantesca árvore-da-borracha (também ela classificada) no canto nordeste do Parque Marechal Carmona. Daí que amiúde terce armas para que se erradique o chorão da orla marítima, por estar a matar as lindas e variadas espécies vegetais que ele sufoca; daí que estejamos sempre a olhar com algum receio de que desapareça a mata original de carvalho cerquinho, ali a caminho do Pisão, na Quinta do Marquês.
Aliás, não foi também para preservarmos o mato – habitat predilecto de pássaros e de pequenos répteis – que se ergueu o parque das Penhas do Marmeleiro, em Murches? E não foi esse o móbil da contestação contra o prolongamento da A5 até ao Guincho, precisamente por ir danificar uma zona de mato extraordinariamente importante para a manutenção da biodiversidade?

[Publicado no Jornal de Cascais, nº 307, 28-03-2012, p. 4].

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