sábado, 22 de dezembro de 2012

Andarilhanças 61

Um mau exemplo – a rotunda do Rancho Coral
O Bairro da Pampilheira, em Cascais, tem os seus ‘serviços’ na zona oriental: restaurantes, casas comerciais, Clínica CUF, inspecção de veículos, Centro de Distribuição Postal, Cozinha com Alma, creches, jardim infantil, centro de dia, oficinas de mecânica e outras, uma pequena fábrica...
Ora quem, utilizando esses serviços, queira regressar, de automóvel, à zona ocidental ou à Torre, à Marinha ou Quinta da Bicuda, tem de descer a Av. Raul Solnado ou ir à chamada rotunda de Birre (sempre congestionada, como se sabe), porque alguém se lembrou de outorgar sentido único aos últimos cem metros da Rua Afonso Lopes Vieira. O bairro foi sangrentamente dividido em dois!
Que se saiba, nenhum dos vizinhos (que também são prejudicados, como é óbvio) tal solicitou; o Colégio existente na esquina não o solicitou também e é de ver o engarrafamento que tal diariamente provoca em hora de entrada e saída de crianças.
Dir-se-á que, assim, há espaço para estacionamento. Certo. Mas as moradias daí têm garagem e os utentes do Colégio dispõem agora do terreiro onde foi demolido o primeiro renque de casas do Bairro José Luís. Espaço de estacionamento aí não falta, que serve também os utentes da clínica.
O que se pede aos serviços camarários? Que reponham o trânsito nos dois sentidos na Rua Afonso Lopes Vieira e, consequentemente, os oito sentidos na Rotunda do Rancho Coral e Coreográfico da Sociedade Musical de Cascais. Não gostaríamos de voltar ao assunto quando – como pensamos que está planeado – se fizer a inauguração oficial da designação da rotunda. Custava-nos inaugurar oficialmente o baptismo de uma rotunda de… sete sentidos!... A não ser que se deseje que ela venha a figurar no rol das ‘extravagâncias’ do concelho!
Serão precisas obras, é claro! A asneira foi feita com requinte, mas nada que a boa vontade e alguns euros não possam suprir!

Um bom exemplo – a rotunda da Luta
            Na informação à imprensa de 13 de Dezembro, emanada do respectivo gabinete camarário, que tinha como tema principal anunciar as novas obras de requalificação da via principal de Bicesse, acrescentou-se a explicação do significado da decoração implantada na ampla rotunda da Luta (tem 48 metros de diâmetro!): esse «conjunto de tubos laranja presta homenagem às características industriais da zona. A solução da tubagem decorativa surge como analogia aos trabalhos industriais e às tubagens do subsolo que habitualmente escapam à visão superficial de uma obra acabada».
            Sim, senhor, muito bem visto! Faltou indicar o nome de quem arquitectou o arranjo, mas fez-se o que há muito preconizamos para as rotundas do concelho que têm ‘esculturas’ no meio: explicou-se! Das outras ninguém percebe o que essas ‘esculturas’ são; não se sabe quem as fez ou as pensou nem o que querem dizer!
            Tem Cascais destas iniquidades!

Iniquidade em Manique
            E já que falamos em «iniquidade» e em estrada para Manique, não podemos deixar de verberar a aprovação feita pelo correspondente gabinete camarário de um edifício tipo caixote implantado por detrás da Casa da Varanda, em Manique de Baixo.
            Mereceu a Casa da Varanda um prémio por ter sido reconstituída, em 1986, segundo a original traça saloia e teve a solução aplausos de todos e honra de ampla reportagem televisiva. Aliás, todo esse conjunto do chamado «centro histórico» de Manique detém características saloias singulares que deveriam preservar-se e que, de resto, quando na Câmara houve essa preocupação de salvaguardar os ‘centros históricos’, foi posta claramente em cima da mesa para uma aprovação que encalhou na Assembleia Municipal, vá-se lá saber porquê!...
            Pois ali plantaram um caixote, obra de mui ilustre arquitecto da nossa época, não o nego nem lhe retiro o valor; contudo… não poderia ter olhado melhor para o enquadramento?... Mas… que digo eu? Insano eu sou! Se se aceitou que Gonçalo Byrne ali pespegasse as três enormes «parcas» sobre a marginal, que mal vem ao mundo de um caixote a mais ou a menos mesmo em plena zona tipicamente saloia? Até dá um ar de modernidade, não dá?

Publicado em Jornal de Cascais, nº 328, 19.12.2012, p. 6.

1 comentário:

  1. Tal como não foi Afonso Henriques que conquistou Lisboa aos Mouros, também aqui quem gizou essa asneira e a apresentou ao Executivo como se fosse o melhor bolo do mundo devem ter sido os técnicos e, designadamente, o chefe dos serviços camarários que tinha de dar parecer favorável antes de ir a despacho. Não digo que Judas não tenha tido culpa; eu disse-lhe logo que fora asneira, mas, nessa altura, não havia nada a fazer porque a obra concessionada previa aquele perfil e os técnicos não foram suficientemente 'solícitos' para perceberem o erro cometido. Falámos diversas vezes com o anterior Presidente, que também nos manifestou a sua incapacidade para alterar o que estava feito. Perguntamo-nos sempre quem é que manda na Câmara; espero que, neste momento, mande o actual Presidente, a quem também já pus ao corrente da situação e a nossa esperança é que encontre receptividade por parte dos serviços!

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