Oportunidade
perdida!
Saudades?
Sim, não o nego. Tenho saudades dos candidatos que conheciam os assuntos, os
estudavam e que se sabiam rodear exclusivamente dos interesses locais. O meu amigo António lembrou-se, antes da
campanha, que seria de interesse ir visitar aquele lar da sua freguesia, para
se inteirar da situação e saber o
que, se eleito, poderia fazer para a melhorar. A directora advertiu-o, porém:
–
Vossemecê pode vir, mas sozinho ou com dois ou três dos seus colaboradores mais
directos. É que, sabe, na outra campanha, um dos candidatos entrou por aqui
adentro com bandeiras, camisolas, panfletos… algazarra! E os meus velhos muito
aflitos: se era uma revolução , se
tinham vindo ocupar o lar, o que era aquilo? Portanto, pode vir, mas não para
fazer propaganda, que estes senhores que estão aqui tomara terem capaci dade para comer, para se deitarem e tomar a
medicação …
António
compreendeu. E pasmou quando eu lhe contei que, de facto, um outro candidato
decidira visitar um centro de acolhimento de indigentes portadores de doenças
mentais das mais variadas e graves etiologias e se fizera acompanhar de todo o
séquito propagandístico… Ele era carros, camisolas, bandeiras, bonés… «Dê-me
uma camisola!», bradava o maluquinho, «Dê-me uma bandeira!», rogava outro… E o
pessoal olhava-se entre si: «Esta gente não percebe mesmo nada disto!
Coitados!».
O chefe
daquele partido ia às terras, sim; mas sabia de antemão com quem deveria falar,
quais os problemas fundamentais que afectavam a população
e quais as medidas concretas que se deveriam adoptar. A inteligência ao serviço
da política. Não telecomandada por quem da vida não tem experiência e se baseia
apenas nos manuais que sôfrega e mui rapidamente procurou devorar.
Exacto: eu
escrevi «devorar» – porque «digerir» é uma função
bem diferente!
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 625, 15-10-2013,
p. 12.
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