domingo, 3 de novembro de 2013

Projectos e realizações

           Quando, em 1989, incluímos no currículo do Curso de Especialização em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias a disciplina de Projectos e Realizações Socioculturais, decerto nem tomámos inteira consciência da dualidade implicada nesta designação. Na verdade, «projectos» apontava o futuro; «realizações» privilegiava o que se encontrava em fase de execução; estava, porém, implícita na proposta a ideia de que o «projecto» deveria assumir características concretas, passíveis de virem a ser transformadas em «realização» num prazo mais ou menos curto.
            A palavra «projecto» rapidamente passou a entrar no quotidiano e, hoje em dia, de «projecto» se fala nas mais variadas circunstâncias e, até, nos maís inusitados contextos. Diria que nada se faz sem que venha rotulado de «projecto»: o artista, ao referir-se ao CD acabado de gravar, concretizou um… «projecto»; à criança na escola é proposto que… elabore um projecto!
            À generalização do conceito correspondeu, pois, a multiplicação de projectos, eventualmente com o correspondente financiamento para a sua concretização. Só que, mui frequentemente, essa concretização não corresponde a uma «realização», dado que «realização» é algo mais: é atingir plenamente os objectivos projectados. E a Comunicação Social tem divulgado muito do que se passa, por exemplo, com os parques industriais, nascidos como cogumelos um pouco por toda a parte e agora ao abandono; excelentes auditórios sem actividades; bibliotecas óptimas sem frequentadores; magníficos parques urbanos de que a população está visceralmente alheada; pioneiros centros de interpretação encerrados por falta de pessoal...
            É bonito reabrir, nomeadamente em proximidade de eleições, duas ou três salas de um museu equipadas com as mais modernas tecnologias. Interessa mais, no entanto, que à reabertura corresponda a vontade política e o necessário apoio administrativo para essas salas usufruírem, na realidade, da vida que para elas se pensou.
            Promoção precisa-se! Mobilizar-se é urgente!
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 626, 01-11-2013, p. 12.

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