terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Proeminências…

             – Olha, Maria, apareceu-me aqui um durão! Que achas que isto é? Se calhar, o melhor é ir ao médico, não te parece?
            Um durão: proeminência inusitada no corpo, intumescimento natural motivado por pancada (um ‘alto’ ou um ‘galo’, quando é na cabeça, à semelhança da crista do galináceo…) ou inesperada excrescência vinda de dentro resultante de inflamação.
            Não, não vêm ao caso as eminências, sobretudo não as «pardas» (que tantas há por aí!...). Essas carecem doutro tratamento, para que desçam ao nível donde nunca deviam ter saído e melhor entenderem os demais. Falemos, sim, de algo mais comezinho, do dia-a-dia.
            Assim, quando se ia à mercearia e se comprava uma rasa de milho:
            – Ó vizinho, ponha-me isso bem acagulado, a fazer camoiço!
            Pois era: mais uns grãozinhos poderiam vir pelo mesmo preço, se o merceeiro não apertasse a rasa (ou rasoira) para desfazer o cogulo…
            Claro, a palavra correcta é acogulado e, curiosamente, cogulo vem do latim: cucullus, que tem o significado de capa, capuz. Era o cogulo assim a modos daquilo que cobria, a parte de cima e, como ficava acumulado, mais pareceria um capuz.
            Já camoiço (também usado já como apelido) é, seguramente, uma corruptela popular de camouco, «crosta», «amontoado».
            De camoiços e cogulos gostamos quando nos beneficiam; já as eminências, se calhar, habitualmente dispensamo-las bem…
 
            Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 179, Dezembro de 2013, p. 10.

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