terça-feira, 10 de março de 2015

Com que jête, môce?

             Advertiu-me um colega do erro que eu cometera: deve dizer-se «tese» e não «dissertação» de doutoramento, porque este último termo se reserva para o mestrado. A minha primeira reacção foi:
             - Com que jête, môce?!
            Depois, pensei melhor e concordei: num mestrado (e então nos que ora se fazem!...), disserta-se, expõe-se, conversa-se… No doutoramento, há que lançar uma hipótese, desenvolver um raciocínio lógico e chegar à demonstração de uma ideia inovadora (a tese).
            No entanto, o que mais me impressionou foi o inesperado da minha espontânea exclamação, eco profundo de frase comum na minha infância.
            Além do ‘jeito’ à moda algarvia, fixei-me no môce, que, aliás, amiúde se reduz a mó, muito mais interessante, de resto, que o corriqueiro pá, derivado de ‘rapaz’. Senão, veja-se: rapaz vem do latim «rapax», que significa, na origem, «o criado propenso a roubar», «rapace»; em contrapartida, moço (e lembramos de imediato Bernardim Ribeiro, «menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe»…) vem (pasme-se!) do adjectivo latino musteus, «doce como o vinho novo», como o mosto, «sumarento»…
            Diga-se lá que o Algarve não sabe dar cartas até no vocabulário!...
                                                                                  
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 194/195, Março/Abril de 2015, p. 10.

 

 

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