segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A perpetuar as pessoas

       Não é invulgar afirmar-se: «Foi el-rei D. Afonso III que fez a conquista definitiva do Algarve aos Mouros». Ou atribuir uma obra de relevo municipal a este ou àquele presidente da Câmara.
      Para caracterizar essa atitude até já se inventou um termo: «fulanizar». Que é como quem diz: «Isto é de fulano, foi ele que fez!».
      Por oposição, surge-nos de imediato a célebre frase do pensador inglês John Donne (1572-1631): «Nenhum homem é uma ilha» – a relembrar não apenas que é cada um de nós fruto também do ambiente que nos rodeia do nascimento até à morte, mas que, por si sós, difícil se torna levar a cabo obra grandiosa.
      Valorizar as pessoas tem sido lema deveras actuante nos últimos anos da vida são-brasense. Dois dos livros publicados no âmbito das comemorações do centenário – 100 Anos 100 Biografias (Figuras do Passado São-Brasense), de Joaquim Manuel Dias, e Desafiando o Destino – a história da minha vida, de David Martins Dias – são disso prova evidente, como o são as evocações que colaboradores do Noticias de S. Braz aqui continuam a fazer de vultos que fizeram história, que «deixaram rasto», para usarmos da expressão de Escrivá de Balaguer.
      Por isso, de igual modo se aplaude a clarividência com que os responsáveis pela nossa agenda cultural S. Brás Acontece sistematicamente dedicam espaço àqueles que, nas artes e mesteres, foram – e são! – nomes a perpetuar. A rubrica que ora mui significativamente se chama «Vales da Memória» merece, pois, o maior aplauso. Na agenda de Janeiro, por exemplo, foi a vez de Júlio Negrão, cabeleireiro, republicano até à medula, também ele já quase uma lenda são-brasense.
      E, para além do que se escreve em papel, há o que se escreve na pedra, não fôssemos nós terra de canteiros!... A toponímia, para além de consagrar em lápides os nomes por que, na tradição, eram conhecidos caminhos, veredas e ruas, constitui igualmente uma forma de honrar quem, pelos seus actos, enobreceu S. Brás de Alportel.
      Aliás, se até há algum tempo só de quando em quando se ouvia alguém dizer «sou de S. Brás», hoje não haverá são-brasense que, onde quer que esteja, no Canadá ou nos confins da Argentina, na Alemanha ou em Marrocos, não sinta orgulho em proclamar a sua naturalidade, envolto porventura na saudade das suas amendoeiras floridas, a sorrir por entre o verde das encostas…

                                          José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz nº 231, 20-02-2016, p. 11.

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