sábado, 24 de junho de 2017

As eternas e sugestivas rivalidades!

Entre povoações vizinhas
            Rivalidades entre povoações vizinhas sempre as houve.
            Poderíamos encher páginas e páginas a contá-las de Norte a Sul do País.
            Janes criou, em 1938, a Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira «com o objectivo de instruir, beneficiar e recrear os associados»? Pois em 15 de Fevereiro de 1941 funda-se, do outro lado da estrada, a Sociedade Familiar e Recreativa da Malveira da Serra. Janes prepara corso carnavalesco? Malveira também tem! Faro tem um clube de futebol a preceito? Olhão também tem de ter! E a rivalidade entre os dois clubes foi sempre acirrada. Como entre o Benfica e o Sporting. Como entre Guimarães e Vizela… Tantos, tantos!...

Entre Cascais e Lisboa
            Cascais também sempre quis rivalizar com Lisboa. Ou melhor, Lisboa sempre quis rivalizar com Cascais, ciumenta desde que os reis começaram a vir aqui passar férias e, com eles, a burguesia e a alta finança. Um espinho atravessado, desde finais do século passado, na garganta dos mandantes alfacinhas…
            No entanto, como, apesar de tudo, Lisboa é cidade e é a capital e a sede oficial do governo (ainda que muitos governantes habitem em Cascais, essa é que é essa!...), manda quem pode e, por exemplo, quando se viu que o turismo, em que Cascais foi pioneiro (e esse palmarés venha o primeiro a negá-lo!), era fecunda fonte de riqueza, logo Lisboa pensou em liquidar a Junta de Turismo da Costa do Estoril e procurar também obter «mais adequada» partilha dos dinheiros provenientes da concessão da chamada Zona de Jogo… E ‘atirou’ ali para as bandas do Ribatejo a sede de decisão da política turística para estas paragens. Se já se viu
            Eu até nem sei muito bem onde é; mas Junta de Turismo acabou e as questões turísticas do concelho de Cascais – se os presidentes do Município se não impuserem – vão continuar a ser decididas lá longe, por quem, eventualmente, até nem sabe que há grutas pré-históricas em Alapraia, um dos ai-jesus da Junta de Turismo durante os (já longínquos) anos 60.
            Pouco antes do 25 de Abril, houve, até, discussão acalorada: que Costa do Estoril não tinha sentido como designação: o que seria bom era Costa de Lisboa e até os arautos dessa teoria se apressaram a mandar fazer milhares de pastas com a nova designação, pastas de que – pecador que confessa é perdoado… – acabei por ser eu o único beneficiário, porque as logrei recuperar do lixo!...

Universidade – uma eterna rivalidade cascalense
            Pronto, as rivalidades do hóquei – de mui saudosa memória (olá, Padre Miguel!...) – também se esvaíram, a partir do momento em que esse deixou de ser, na «linha», o desporto de eleição do Cascais, do Parede, do Carcavelos, da Juventude Salesiana…
            Agora, a rivalidade é outra: uma Universidade! Cascais não é verdadeiramente Cascais se não tiver uma Universidade! Pode ser de Saúde, de Tecnologia de Ponta, de Astronáutica, de… qualquer coisa! Mas Universidade tem de ter, dê por onde der!
            Nunca me meteria, confesso, a fazer uma crónica sobre este tema, eu, que sou catedrático aposentado de Coimbra, se – ao arrumar os meus papéis – me não tivesse caído de uma das pastas documentação curiosa, que passo a referir.
            Em carta que me foi dirigida, na qualidade (então) de presidente da Associação Cultural de Cascais, o Prof. Doutor Afonso de Barros, na sua qualidade de «presidente da Comissão Instaladora» da Universidade de Cascais, convidava-me a estar presente na sessão de apresentação desse projecto, a realizar no Dia do Município de 1994, 7 de Junho.
            Promotora do projecto? A «EIA – Ensino, Investigação e Administração, S. A., constituída por Professores Universitários, Investigadores Científicos e Quadros Superiores, associados ao Grupo Caixa Geral de Depósitos, ao Montepio Geral ao Entreposto, e ao Banco Português de Investimento», «à Coba e à Ensinus, com a participação da Câmara Municipal de Cascais».
            Propósito: «na fase inicial, formar licenciados em Gestão de Sistemas e Informação, Gestão e Estratégia, Gestão Territorial e Urbana e Gestão do Ambiente», a começar já no ano lectivo de 1994-1995.
            Da Comissão Instaladora, presidida, como se escreveu, pelo Prof. Catedrático Afonso de Barros, faziam parte 9 personalidades, entre as quais Ana Benavente, João Paulo Monteiro (catedrático), João de Pina Cabral (investigador principal) e Joaquim Pina Moura (em representação da C. M. Cascais). Entre os consultores científicos, chamaram-me a atenção os nomes de João Ferreira do Amaral (do ISEG) e João Salgueiro (Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa), que seria o Presidente da Assembleia Geral, tendo como vice-presidente o Dr. Artur Santos Silva.
            E pronto. Está a notícia feita.
            Quer o leitor nomes mais sonantes? Quer cursos mais ajustados às necessidades do dia-a-dia cascalense do que «Gestão Territorial e Urbana» ou «Gestão do Ambiente»? Não, não é possível.
            ‒ Então e cadê a «Universidade de Cascais»?
            ‒ Sumiu!
            ‒ E essa tal de EIA sumiu também?
            ‒ Ná, não sumiu! Ponha o amigo «E. I. A. – Ensino, Investigação e Administração» no Google e fica a saber da marosca (passe o termo!). É que, neste caso, outra rivalidade funcionou: a de Oeiras!
            Pois é! Não houve Universidade de Cascais, mas houve a Universidade Atlântica, sediada em Barcarena, nas instalações da antiga Fábrica da Pólvora! Cascais, à falta de trunfos, perdeu a rodada!...
            Vencido, mas não convencido! E «Universidade» continua a ser palavra saborosa que mui frequentemente se badala. A ‘internacionalíssima’ a instalar em Carcavelos, por exemplo. E até já se aventou que as decrépitas estruturas do antigo Hospital dos Condes de Castro Guimarães, no coração da vila, poderiam vir a anichar pólo de Medicina da Universidade Católica!...
            Bem fez a Delegação da Cruz Vermelha: nada de universidades! Uma Academia Sénior é o que é! E estão-lhe a abarrotar ambas as secções. Qualquer dia, tiram-lhe o Sénior e põem «Academia da Experiência» ou, mais ao jeito do facebook, «Academia da Partilha dos Saberes». Nesse domínio, as rivalidades não contam: dão ainda mais ânimo a continuar!

                                                                       José d’Encarnação

2 comentários:

  1. Vítor Fialho 24/6
    De facto, o que conta é ter uma Universidade, nem que seja para aprender a fazer alfinetes.
    Numa altura em que cada vez há menos alunos a ingressar no ensino superior público, quer-se apostar em algo tão nebuloso quanto a madrugada de D. Sebastião.
    A oferta existente a 'meia dúzia' de km não chega? Ou será que são as notas do secundário é que não chegam para "ultrapassar" os km até Lisboa?!?!
    Há que estabelecer prioridades, muitas delas esquecidas, esta da universidade, permita-me o desabafo, não é uma delas!

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  2. Margarida Lino 25/6 às 15:47
    Meu querido amigo,
    Tambm me disseram, há pouco tempo, no Museu Condes de Castro Guimarães, que o Hospital com o mesmo nome ia ser uma universidade. Fiquei curiosa e, como não tenho conhecimentos suficientes para poder avaliar a situação, vou ter que esperar para ver. Beijinhos!

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