Chegou-se
agora ao extremo – amiúde deliciosamente alvejado pelos humoristas e não só –
de, com todo o requinte, nos apresentarem um prato sob a elegantíssima palavra…
como é? Ah! … Gourmet! E empratar
constitui já uma das técnicas em que os estudantes das escolas hoteleiras se
têm de aprimorar!
Lembro-me,
a propósito, de ter lido mui saboroso escrito acerca de inovador prato em que
«com feijão» era um dos ingredientes. E era! Um feijão apenas! Ora, para
português que «feijão» é mesmo «feijoada à transmontana» ou «sopa de feijão com
hortaliça», aquele fêjanito ali
perdido no meio do prato como que a gritar por socorro era de… rir e chorar por
mais! Literalmente! E de atirar essa imagem às urtigas!...
Quando
havia bancários para atendimento ao público, eles, sim, sempre engravatados,
sabiam, no entanto, que vestir trapos não significa pobreza (e, aqui para nós,
quanto não custam agora essas calças de ganga rasgadas à maneira, soubesse-o
minha mãe, que toda se azafamava a pôr joelheiras nas de meu pai e fundilhos
nas minhas, que eu as delia nos escorregas!...). Sabiam isso do trajar os
bancários, porque, muita vez, do bolso de calças coçadas saía volumoso maço de
notas!....
Mas
esta questão da imagem veio-me assim de repente à mão de semear, porque eu
queria dar conta dum episódio em que ela, a imagem, me descoroçoou deveras. Eu
conto.
Não
quisemos jantar em Espanha e parámos, por isso, no primeiro restaurante português,
logo a seguir à fronteira.
Era
do tipo self-service, mas apercebemo-nos
que havia sopa («caldo verde», disseram-nos) e as hipóteses mais viáveis eram
prego no pão ou sanduíche de panado. Estava um rapaz na caixa e atendia um
senhor ao balcão. Iam dando as ordens para dentro, para a cozinha. Quando a recebemos,
aquecida a tigela ao microondas, verificámos que, afinal, a sopa era de nabiças.
Demoraram bastante os pregos.
Na
casa-de-banho dos homens, já não havia toalhetes e o recipiente dos usados transbordava
para o chão.
Assim,
à entrada de Portugal, nada boa era a imagem. Nem para a economia!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), 01-08-2018, p. 11.
Ana Teresa:
ResponderEliminarMais valia ter comido umas tapas, Professor (e atestou o depósito?)
Sim, para a outra vez vão tapas e enviamos o nacionalismo às urtigas. Quanto a atestar o depósito do outro lado da fronteira, 'havera' eu de me esquecer?! Português que se preza não deixa de ter essa atitude, enquanto os senhores que mandam não tiverem capacidade para entender doutro modo!...
EliminarNeyde Theml
ResponderEliminarVocê está de regime ou é a "nova cozinha"?
A «nova cozinha», Neyde! A «nouvelle cuisine»!...
EliminarEssa nos leva a fazer uma refeição em casa.
EliminarAna Teresa
ResponderEliminarJá me aconteceu o mesmo. Deixamos Badajoz pra trás, chegados a Borba, comer onde? Preparava-me eu pra umas belas migas, só encontrámos um restaurante aberto onde tivemos que comer um horrível bacalhau à Brás!