terça-feira, 16 de abril de 2019

A enfermeira no museu

             Inaugurou-se, com pompa e circunstância, no dia 6, o Museu Municipal Pedro Nunes, em Alcácer do Sal. Nasceu, de facto, em Alcácer o sempre recordado inventor do nónio, que de sua naturalidade tinha orgulho, pois se assinava «Salaciense».
            Com muito orgulho ficaram também os habitantes desta antiquíssima localidade à beira do Sado, na medida em que este seu museu, instalado numa antiga igreja também ela de grande tradição e agora bem recuperada, lhes conta, através dos objectos nele expostos, uma história de milénios, deveras singular.
            Servem para isso os museus: para nos reconciliarem com o Passado e nos darem conta de que, afinal, somos elos de uma longa cadeia, que nos compete não quebrar, pela preservação do antigo que é notável e do presente que reputamos o possa vir a ser.
Painel à entrada do museu
            Mais do que notícias sobre museus, porém, os noticiários falam, hoje, de enfermeiros e das suas reivindicações. Por isso, não quis deixar para mais tarde dar conta duma outra emoção que tive, quando, a 28 de Maio passado, visitei, em Londres, junto ao Saint Thomas’ Hospital, o Florence Nithingale Museum. Não se evoca aí o passado de um povo ou de uma região: é um museu pessoal, construído em torno da vida de uma pessoa, Florence Nithingale (1820-1910), bem conhecida da classe dos enfermeiros, porque o seu juramento profissional se baseia no juramento desta enfermeira:

F. Nithingale, por H. Lenthall
            «Livre e solenemente, em presença de Deus e desta assembleia juro: dedicar minha vida profissional ao serviço da humanidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana, exercendo a Enfermagem com consciência e fidelidade; guardar, sem desfalecimento, os segredos que me forem confiados…».

            «A Dama da Lâmpada», como ficou a ser mundialmente conhecida, por usar uma lanterna a fim de poder, de noite, tratar os feridos na Guerra da Crimeia (1853-1856), onde, na verdade, se notabilizou, Florence Nithingale constitui o modelo para quantos exercem esta profissão. O museu mostra a verdadeira Florence, «uma mulher de muitos talentos e… defeitos»; explica porque a devemos recordar hoje. Um verdadeiro hino à nobre função dos enfermeiros!
            Fui lá a acompanhar um dos meus netos, de 5 anos, que precisava de responder às questões que, na escola, lhe haviam proposto. Aliás, no próprio museu existia um livro de inquérito para as crianças. Como arqueólogo, gostei de saber que Florence tinha como talismã uma pequena coruja que apanhara na acrópole de Atenas e a que dera o nome de Atena…

                                                                       José d’Encarnação
           
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 752, 2019-04-15, p. 11.



1 comentário:

  1. Que belo texto!
    Uma das primeiras biografias que li, em criança, foi sobre esta enfermeira, o Rouxinol.
    Não sabia do museu centrado na sua pessoa e dedicação profissional.
    E que bonita ideia ter um livro para desafiar as crianças a darem opinião.
    Bem haja
    Aneleh Ariam

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